O Globo, n. 32038, 25/04/2021, País, p. 13

 

Bolsonaro constrói alianças eleitorais no Senado
Bernardo Mello
25/04/2021

 

 

 

Alvo da CPI da Covid, o presidente Jair Bolsonaro vem construindo alianças no Senado de olho em palanques estaduais para sua campanha à reeleição. Pelo menos dez senadores aliados do presidente, e que devem participar das campanhas de 2022 —sete são considerados pré-candidatos —, assinaram o requerimento que incluiu na CPI a aplicação dos repasses federais, medida que pode fustigar governadores que buscam novo mandato. O requerimento foi apresentado por Eduardo Girão (Podemos-CE), que alegou supostos desvios na gestão do governador do Ceará, Camilo Santana (PT), adversário de Bolsonaro.

Girão é um dos nomes cotados para concorrer ao governo em 2022 com apoio do bolsonarismo local. Além dele, três membros governistas da CPI são pré-candidatos em seus estados: Jorginho Mello (PL-SC), Ciro Nogueira (PP-PI) e Marcos Rogério (DEM-RO). Também aliado, Luis Carlos Heinze (PP-RS) ocupou uma das sete vagas de suplente na CPI. Cotado para disputar o governo gaúcho, Heinze nega que a ampliação da CPI seja pretexto para atacar governadores adversários a Bolsonaro, como Eduardo Leite (PSDB). Embora o PP local esteja na base de Leite, Heinze costurou o aval do partido para montar um palanque bolsonarista, a exemplo do que fez por conta própria em 2018, quando ignorou a coligação com Geraldo Alckmin.

— Não tem como culpar o presidente pelas mortes na pandemia. Tenho uma aproximação com Bolsonaro que independe de o governo estar bem ou mal avaliado. Se houver candidatura minha, é natural que seja ligada à dele —afirmou Heinze. Em estados como Pernambuco e Maranhão, por exemplo, os senadores Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) e Roberto Rocha (PSDB-MA) apostam no vínculo a Bolsonaro para se contrapor a governadores aliados do ex-presidente Lula (PT). Bezerra, líder do governo no Senado, articula uma candidatura do filho, Miguel Coelho (MDB), atual prefeito de Petrolina. Rocha, cujo mandato termina em 2022, pode concorrer de novo a uma vaga ao Senado — possivelmente contra o atual governador Flávio Dino (PCdoB), numa disputa considerada difícil —ou se lançar ao governo do estado. A articulação mira partidos que hoje são da base de Dino, mas apoiam Bolsonaro nacionalmente, casos do Republicanos e PL. O próprio Rocha está de saída do PSDB.

—A oposição ainda não se apresenta de forma nítida, mas essas forças se agruparão em torno de um novo projeto político para o Maranhão —disse Rocha. No Tocantins, estado em que o líder do governo Bolsonaro no Congresso, Eduardo Gomes (MDB), é tido como candidato a governador, um cacique emedebista avalia que manter a aliança com o presidente é o caminho “pragmático” devido à incerteza sobre a força da oposição local. Em Minas e no Acre, os senadores governistas Carlos Viana (PSD-MG) e Márcio Bittar (MDB-AC), embora não se apresentem como pré-candidatos, vêm ocupando o vácuo de possíveis palanques para o presidente. No caso de Bittar, que tem falado em “puxar a reeleição de Bolsonaro” no estado, a ideia é atrair apoio para a reeleição do governador Gladson Cameli (PP). —Não há outro cenário para 2022 que não seja o de prestar todo apoio ao projeto do presidente —diz Bittar.