O Globo, n. 32039, 26/04/2021, País, p. 5

 

PMB vira Brasil 35 de olho na filiação de Jair Bolsonaro e nas eleições
Guilherme Caetano
26/04/2021

 

 

A lista de partidos políticos que mudaram de nome nos últimos anos teve um acréscimo no sábado. Enquanto mantém conversas para atrair o presidente Jair Bolsonaro para suas fileiras, o Partido da Mulher Brasileira (PMB) foi rebatizado de “Brasil 35”. Outras nove legendas passaram por esse processo de “rebranding” nos últimos dez anos no Brasil.

Especialistas ouvidos pelo GLOBO dizem acreditar que esse tipo de medida tem pouco apelo junto ao eleitorado, mas funciona para reduzir impactos negativos, principalmente numa sociedade na qual é forte o descrédito dos partidos políticos. A tendência, dizem eles, é mundial, mas encontrou terreno fértil no Brasil na esteira dos escândalos de corrupção dos últimos anos.

A presidente do PMB, Sued Haidar, diz que a mudança não sofreu influência da busca de Bolsonaro por um partido para disputar as eleições de 2022. Rompido com o PSL desde 2019, o presidente se lançou numa empreitada para criar a própria legenda, o Aliança pelo Brasil, mas ainda não obteve o número mínimo de assinaturas necessárias.

Os casos mais recentes de mudança são do Cidadania, ex-Partido Popular Socialista (PPS), Republicanos, exPartido Republicano Brasileiro (PRB), e Partido Liberal (PL), ex-Partido da República (PR). Todos obtiveram a aprovação do novo registro pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2019.

REJEIÇÃO A PARTIDOS

No ano anterior, outras quatro siglas foram rebatizadas. O Partido Progressista (PP) virou Progressistas, o Partido Social Democrata Cristã (PSDC) ficou apenas Democracia Cristã (DC) e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) voltou para sua sigla original, o MDB, perdendo o “P”. Já o Partido Ecológico Nacional (PEN) se tornou o Patriota.

Em 2017, por sua vez, o Partido Trabalhista do Brasil (PTdoB) se transformou no Avante, e o Partido Trabalhista Nacional (PTN), no Podemos.

As mudanças têm em comum o fato de que quase todas suprimiram o “partido” do nome . Entraram, no lugar, palavras mais parecidas com slogans, numa tentativa de se reconciliar com uma sociedade que passou a rejeitar o sistema político tradicional.

A Operação Lava-Jato, segundo especialistas, contribuiu para o agravamento do descrédito dos partidos. Todas as mudanças de nome na última década se deram após o auge dos escândalos de corrupção.

O cientista político Bruno Bolognesi, da UFPR, diz não ser coincidência que a maior parte dessas mudanças se deu nos últimos cinco anos.

—O efeito de verdade dessa mudança de nome não é tanto para o eleitorado, porque o eleitor no Brasil não vota em partido, e sim em nomes. Mas serve para a coordenação eleitoral, tipos de alianças políticas, possibilidades de recrutamento de candidatos.

Para Paulo Vasconcelos, marqueteiro e estrategista de campanhas como as de Aécio Neves (PSDB), Alexandre Kalil (PSD) e Andrea Matarazzo (PSD), o “rebranding” não traz efeitos positivos, evita os negativos.

O caso do PMB, segundo ele, é uma tentativa de se tornar palatável para o projeto político de Bolsonaro.

—Talvez “candidato do Partido da Mulher Brasileira” não fosse um título bom para o Bolsonaro ouvir num debate —diz Vasconcelos.

Marcelo Issa, diretor executivo do Movimento Transparência Partidária, segue a linha de Vasconcelos e Bolognesi de que as mudanças têm pouca penetração no eleitorado:

—São alterações muito cosméticas. Não implicam alterações muito profundas do ponto de vista das práticas, dos quadros do partido. Esse movimento, de maneira geral, tem a ver com o sentimento de rejeição ao sistema político, mas o caso de Patriota e do PMB é mais de uma tentativa de cooptar Bolsonaro.