Título: Sem medo dos importados
Autor: Ana P. Machado, Daniele Carvalho e Dimalice Nunes
Fonte: Jornal do Brasil, 07/03/2005, Economia & Negócios, p. A18

Siderúrgicas dizem que terão preços mais competitivos

A decisão do governo brasileiro de reduzir o imposto de importação de 15 produtos siderúrgicos não deve reduzir a competitividade do aço brasileiro, de acordo com o presidente do Sistema Usiminas, Rinaldo Soares Pinheiro. Mesmo assim, o executivo criticou a medida. - É uma solução que deve ser usada como moeda de troca em negociações internacionais. Entretanto, o Brasil não está ganhando nada com isso - afirmou - Foi uma medida injusta para com as siderúrgicas. Por muito tempo as companhias subsidiavam o aço para o mercado interno. Quando foram privatizadas, passaram a acompanhar o preço internacional.

Segundo ele, a medida não causará impactos negativos nos negócios da companhia (que inclui a Cosipa).

- Continuaremos competitivos tanto no mercado interno quanto no externo.

O Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) também manifestou-se contra a medida do governo, que tem por objetivo minimizar a alta dos preços do minério de ferro e do aço no mercado doméstico. Para o vice-presidente executivo do IBS, Marco Polo de Mello Lopes, o governo cedeu a pressões de grupos que aproveitaram os reajustes do minério de ferro anunciados pela Vale do Rio Doce para criar um ambiente de falsa insegurança.

- Não há razão para isto. O reajuste aplicado no Brasil é o mesmo adotado no exterior, de 71,5%. Além disso, não existe motivo para a importação, já que as siderúrgicas nacionais têm total condição de atender ao mercado doméstico.

De acordo com dados do IBS, a produção de aço bruto em 2004 foi de 32,9 milhões de toneladas, das quais 17,8 milhões foram consumidas no mercado interno.

- Estes setores que reclamam a alíquota zero em nada foram prejudicados com os últimos reajustes. No ano passado, por exemplo, os setores intensivos em aço registraram aumento de 40% nas exportações.

A alíquota zero não foi o primeiro contratempo enfrentado pelas usinas brasileiras. O reajuste de 71,5% do minério de ferro, acertado há poucas semanas com as siderúrgicas européias e asiáticas, também deverá ser aplicado pela Vale no Brasil, de acordo com o presidente da Usiminas.

- Ainda estamos negociando os patamares de reajuste, mas a base de referência são os preços praticados no mercado internacional.

Segundo ele, no entanto, Usiminas e Cosipa poderão apresentar preços mais competitivos do que o de concorrentes internacionais.

- A cotação do minério de ferro da Vale é calculada a partir do porto de Vitória, de onde o insumo é escoado. Como estamos próximos, o custo logístico é menor em comparação aos clientes internacionais.

A Companhia Vale do Rio Doce também argumentou que as siderúrgicas brasileiras levam vantagem competitiva no preço do minério de ferro por não pagarem o valor do frete. Um recente levantamento da mineradora mostra que o preço do insumo pode ficar até 316% mais caro quando embarcado, por exemplo, para a China.

- Diferentemente de outros setores, o preço do minério de ferro no Brasil não é formado pelo preço vigente no exterior, mais o frete e taxas de importação. As empresas destes setores levam em consideração estes fatores, que adicionam custos ao produto, para fazerem uma cotação semelhante no Brasil, o que não acontece com o minério de ferro - defende o diretor-executivo de Novos Negócios da Vale, José Carlos Martins.