O Globo, n. 32040, 27/04/2021, País, p. 4

 

Presencial, primeira sessão definirá formato da CPI
Julia Lindner
Paulo Cappelli
Jussara Soares
27/04/2021

 

 

 

A primeira sessão da CPI da Covid, hoje, no Senado, será em formato presencial. Além de indicarem o presidente e o relator dos trabalhos — o acordo prevê que as vagas fiquem com Omar Aziz (PSD-AM) e Renan Calheiros (MDB-AL) —, os senadores vão definir o formato sob o qual a comissão funcionará nos próximos meses. A tendência é que seja definido um modelo misto, com sessões presenciais aliadas ao funcionamento virtual da CPI. Há expectativa de que seja apresentado o plano de trabalho que vai ditar o ritmo e o andamento da comissão, mas a primeira reunião ficou sob um clima de incerteza por causa da decisão liminar que suspendeu a indicação de Renan para a relatoria.

Por serem maioria, com sete dos 11 senadores titulares, os independentes e oposicionistas passaram os últimos dias focados em elaborar juntos o plano de trabalho. Entre eles, há consenso sobre a convocação dos ex-ministros da Saúde no governo Bolsonaro e do ex-secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten.

Parte do grupo também tem intenção de chamar o ministro da Economia, Paulo Guedes, para falar sobre auxílio emergencial. A iniciativa, porém, enfrenta resistência de Renan, que é próximo ao ministro. O “grupos dos sete”, como está sendo chamada a ala formada por oposicionistas e independentes do governo, se reuniu na noite de ontem na casa de Omar Aziz para tentar alinhar os pontos principais a serem apresentados. O objetivo é atuar de forma unificada para vencer as votações contra os governistas, que estão em minoria.

—Acredito que não tem como fugir da convocação dos ex-ministros da Saúde, inclusive de figuras como o Fábio, da antiga Secom, e o próprio Braga Netto (ex-ministro da Casa Civil e atual ministro da Defesa). E não tem como fugir da requisição de documentos sobre aquisição de vacinas e repasses federais a estados e municípios — afirmou Alessandro Vieira (Cidadania-SE), suplente da CPI.

Na véspera da instalação da CPI, o Planalto tentava amenizar o desgaste do vazamento do e-mail enviado pela Casa Civil, comanda pelo ministro Luiz Eduardo Ramos, pedindo que diversos ministérios respondessem pontos sobre o enfrentamento à pandemia que poderão ser questionados pela CPI.

Para alguns integrantes do governo, a divulgação do documento, revelado pelo portal UOL e obtido também pelo GLOBO, revelou a estratégia do governo para senadores e, portanto, mais uma vez demonstrou o despreparo para enfrentar o que consideram a batalha mais difícil da gestão Bolsonaro até aqui. Em caráter reservado, membros do governo criticaram o fato de o documento ajudar a dar publicidade a fatos negativos e entregar para a CPI os temas que o Executivo já mapeou como problemáticos.

Nas redes sociais, políticos da oposição ironizaram o documento que cita 23 “acusações” que podem ser esperadas pelo governo. Parlamentares classificaram o documento como “sincericídio”, “confissão de culpa” e “trabalho já feito”. O deputado federal Ivan Valente (SP) disse que o roteiro com 23 perguntas “parece mais confissão de Culpa”. Em nota, a Casa Civil afirmou que fez “o óbvio”, e que compete a ela coordenar os demais ministérios para o governo prestas esclarecimentos na CPI.