O Globo, n. 32040, 27/04/2021, País, p. 6

 

Delegado da PF diz que Salles legitimou ação de criminosos
Bruno Goés
27/04/2021

 

 

 

O delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva disse ontem, ao ser questionado por parlamentares na Câmara dos Deputados, que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tornou legítima a ação de madeireiros e participou de ato fraudulento para proteger criminosos. Ele foi ouvido sobre caso de exploração ilegal de madeira na Amazônia em audiência da Comissão de Legislação Participativa.

Afastado de suas funções após enviar uma notícia-crime ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ministro e o senador Telmário Mota (Pros-RR), Saraiva falou sobre grande esquema de grilagem e exploração de terras que deveriam ser protegidas. Segundo ele, Salles atuou para minar a credibilidade da Operação Handroanthus, que realizou uma apreensão recorde de aproximadamente 200 mil metros cúbicos de madeira extraídos ilegalmente:

— O senhor ministro fez uma inversão, tornou legítima a ação dos criminosos, e não dos servidores públicos (da PF que realizaram a operação).

Segundo Saraiva, Salles praticou atos que podem constituir crime. Ele mencionou as críticas feitas pelo ministro sobre a operação realizada em dezembro de 2020 — segundo ele, a postura atrapalhou a PF. No entanto, o delegado ressaltou que só recorreu ao STF após ação concreta do ministro:

— Ocorre que (o ministro) não ficou só no discurso. Ele foi até a área, fez uma pseudo perícia de 40 mil toras (de madeira), olhou duas delas e disse que conferiu, que a princípio estava tudo certinho, que as pessoas apresentaram escrituras.

Saraiva, então, disse que a extração comprovou-se ilegal. Afirmou ainda que quando os documentos foram reunidos em Santarém, com auxílio de Salles, foi dado um prazo de uma semana para a perícia da PF ser feita e a madeira ser liberada.

— Quando vi aquele conjunto de documentos, que foi uma reunião organizada ou pelo menos com a participação direta do ministro do Meio Ambiente e, quando aquilo se mostrou uma fraude imensa, onde se buscava erodir a autoridade policial, eu entendi que o correto seria encaminhar a notícia-crime ao Supremo Tribunal Federal apontando aquele fato.

O delegado ressaltou ainda que há 40 pontos de extração de madeira na região onde a operação foi feita, mas só em dez locais foram apresentados documentos.