O Globo, n. 32041, 28/04/2021, País, p. 6

 

Flávio chama Pacheco de ‘ingrato’ por condução da CPI
Paulo Cappelli
Julia Lindner
28/04/2021

 

 

 

O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) chamou de “ingrato” o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), por ter decidido ignorar a decisão judicial de primeira instância que impedia Renan Calheiros (MDB-AL), adversário do governo, de ser relator a CPI da Covid. Esta foi a primeira crítica do núcleo de Bolsonaro ao presidente do Congresso, que foi eleito para a função com o apoio do Palácio do Planalto.

Filho do presidente da República, Flávio destacou que Pacheco acatou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) determinando a instalação da CPI, mas ignorou a da primeira instância que tratava da relatoria.

—Quando houve a decisão do Barroso (ministro Luís Roberto Barroso), Pacheco disse: “Decisão não se discute, cumpre-se”. Mas, passados alguns dias, a Justiça determina que Renan não pode ser relator, e ele diz que não vai cumprir — disse Flávio, que usava uma tipoia devido a um acidente com um quadriciclo em praia do Ceará.

Indagado se houve “ingratidão” por parte de Pacheco, Flávio afirmou que sim.

— Entendo que houve ingratidão e falta de consideração por parte do presidente da Casa. Deveria ao menos ter nos procurado para avaliar a conveniência da CPI. No mínimo, deveria ouvir agora o (líder do governo no Congresso) Eduardo Gomes (MDB-TO) para fazer a CPI presencial. Vários passos da CPI deveriam ser presenciais. Por que não acatar essa questão de ordem e esperar todos se imunizarem? Por que essa correria? Em um momento em que todas as comissões estão paradas — argumentou Flávio.

TRF-1 DERRUBOU LIMINAR

Horas depois da declaração do senador, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1 )derrubou a liminar da primeira instância e, citando o princípio de separação dos Poderes, manteve livre o caminho para Renan Calheiros relatar a CPI.

A crítica pública a Pacheco já tinha sido feita por Flávio horas antes da instalação da comissão no grupo de WhatsApp dos senadores. O presidente do Senado respondeu à mensagem afirmando ter tomado uma “decisão técnica”, sustentando que a liminar de primeira instância tinha fundamentos errados.

Aliados de Pacheco foram surpreendidos pelas falas de Flávio. Segundo eles, o presidente do Senado se indispôs durante semanas com a oposição por segurar a CPI, mas na primeira atitude que contrariou bolsonaristas sentiu que foi atacado.

Para barrar o colegiado, antes da decisão do STF, Pacheco argumentava justamente que havia questões sanitárias que precisavam ser consideradas e que o colegiado seria politizado num momento em que o foco deveria ser a disponibilização de vacinas.

Como informou a colunista Bela Megale, Pacheco garantiu aos aliados que não entrará em debates para “animar a claque” e que quando sentir obrigação de responder adotará um tom sóbrio.

Interlocutores de Pacheco afirmam que com a postura ele busca se distanciar, como presidente do Senado, dos parlamentares que, segundo ele, usarão a CPI da Covid para jogar para sua plateia eleitoral. O senador tem dito que “será chamado para dançar” tanto pelos governistas quanto pela oposição, mas que não vai “oferecer a contradança”.

A análise do Palácio do Planalto, porém, é de que Pacheco tem usado CPI da Covid para testar seu nome como uma opção de centro para 2022.