Título: Falsos corretores na cadeia
Autor: Gustavo Igreja
Fonte: Jornal do Brasil, 01/02/2005, Brasília, p. D8

Quadrilha vendia lotes do governo por até R$ 10 mil A Delegacia do Consumidor (Decon) prendeu na última semana quatro estelionatários que atuavam em todo o DF vendendo lotes que não possuíam. Com anúncios no jornal, eles atraíam as vítimas e ofereciam as áreas com valor entre R$ 6 mil e R$ 10 mil, todos terrenos do governo, destinados a famílias cadastradas em programas habitacionais do GDF. Ao todo, são dez os envolvidos. Sete já foram detidos. Um deles é policial militar. Três devem ser presos nos próximos dias. Há 20 dias a polícia investiga a atuação da quadrilha, que fez pelo menos 15 vítimas do DF nos últimos seis meses. De acordo com a delegada Vera Lúcia da Silva, eles publicavam em jornais de grande circulação no DF e no Entorno ofertas de lotes e, ao serem procurados pelo pretensos compradores, marcavam encontros nas áreas ''à venda'' para que os clientes conhecessem os terrenos.

Durante a conversa, eles apresentavam documentos fraudados, ainda com o timbre da Secretaria de Habitação do DF, como se o órgão tivesse dado a eles a posse sobre o terreno. Dali, estelionatário e vítima se dirigiam ao cartório, onde, depois de realizado o pagamento, fazia-se a transferência para o comprador dos direitos sobre o lote. Só quando a vítima ia tomar posse do bem descobria que a área pertencia ao governo e tudo não passava de golpe.

- Temos 15 queixas registradas por vítimas deles. Mas acreditamos que tenham feito muito mais. Quem tiver caído no golpe deve nos procurar para que tomemos as providências. Os lugares em que mais venderam os lotes falsos foram a Samambaia e o Recanto das Emas. Nos próximos dias deveremos prender outros três que ainda estão soltos - promete a delegada.

Desempregado há seis meses, Everaldo Barbosa dos Santos, 30 anos, diz que sozinho, vendeu três lotes entre R$ 8 mil e R$ 8,5 mil, todos no Recanto das Emas. Por venda, levava entre R$ 1 mil e R$ 2 mil. O resto repassava a um homem que, a eles, se identificava como Paulo e que planejava toda a ção.

- Minha participação era só ir no cartório fazer a transferência do documento - contou.

Segundo Evandro Donizete do Nascimento, 41, eles só conheciam Paulo de vista e tinham pouco contato com ele. Também não sabiam dizer quem colocava os anúncios no jornal. Nem deram informações sobre o policial Milton Mudesto da Silva, 42, que presta serviço e está preso no 6º Batalhão da PM, no Guará.

O terceiro preso, Celso Antônio Araújo, 40, é dono de um sacolão no Recanto das Emas e atuava dando apoio logístico ao grupo.

- Ele emprestava carro, trocava cheques, esse tipo de apoio. A investigação continua nos próximos 20 dias, quando todos os envolvidos deverão ter sido capturados. A pena por estelionato e formação de quadrilha vai de um a cinco anos de prisão - explicou a delegada.