Título: Como pular muito e dormir pouco
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: Jornal do Brasil, 01/02/2005, Saùde, p. A12

Técnica do Sono Polifásico permite que o corpo se recupere dos excessos em muito menos tempo Em época de carnaval, a qualidade e a quantidade do sono são as primeiras coisas que o folião sacrifica. Mas o que pouca gente sabe é que é possível dormir menos e se recuperar bem sem prejudicar a saúde. O método, denominado Uberman, possibilita que com poucas horas de descanso as pessoas se recomponham do cansaço para acompanhar a maratona.

A técnica, também chamada de Sono Polifásico, consiste em adaptar o relógio biológico para que se descanse, não ininterruptamente, como é o usual, e sim de forma fragmentada. Seguindo todos os passos do processo da maneira correta o estágio mais profundo e mais importante do sono é maximizado. A fase REM (sigla, em inglês, para movimento rápido dos olhos) em que o relaxamento do corpo está no seu ápice e que o organismo se recicla.

O método Uberman consiste em dormir 1h30, no mínimo, ou múltiplos desse número, durante a noite, de acordo com a preferência de cada um. Depois, ao longo do dia, deve-se dormir, de forma distribuída, em 3 períodos de 20 minutos.

- Os cochilos mantêm a pessoa sem sono, não deixando que fique inerte.- explica Ademir Baptista, neurologista, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e especialista em medicina do sono.

É importante ficar atento aos horários das sonecas: uma deve ser obrigatoriamente depois do almoço e a outra no final da tarde, a terceira fica a gosto. O ideal para quem quer pular carnaval assim é começar alguns dias antes, para conseguir se adaptar. A engenheira Mariana Nogueira, de 24 anos, por exemplo, já sabe que vai deixar o sono para segundo plano.

- Outro dia dormi às 7h e acordei às 11h preocupada porque já estava atrasada para o bloco. No carnaval vou a todos os eventos que conseguir, de manhã, de tarde e de noite, movida a folia!- conta.

Esse método para dormir, segundo o professor, não prejudica a saúde porque permite que se completem as cinco fases do ciclo do sono. Nas duas primeiras, o sono é leve. Em seguida é profundo, ou delta e, na fase 4, o organismo produz proteínas, como o hormônio do crescimento, e deixa de produzir outros como o cortisol, responsável pelo estresse. Por último vem a fase REM.

- Ele evita o ''desperdício'' do sono , já que diminui a duração dos dois estágios superficiais sem função específica no organismo - afirma Ademir.

Segundo o médico, o método Uberman existe há 10 anos e sua aplicação começou com as regatas solitárias. Nestas competições esportivas, os velejadores ficam longos períodos sozinhos e não podem dormir muitas horas seguidas para não perder o controle do barco.

Além de quebrar o galho dos foliões, o Sono Polifásico pode servir para quem tem urgência em cumprir alguma tarefa e não tem tempo hábil. É o caso de Marcele Delocco, de 17 anos. Ela prestou vestibular ano passado e cumpria uma rotina difícil, estudando o dia todo até a madrugada e dormindo pouco.

- No carnaval isso também pode me ajudar, já que vou ver os desfiles de escolas de samba com os amigos - disse.

Adriano Seixas, de 26 anos, experimentou o método por seis meses porque precisava trabalhar no hospital e estudar para a prova de residência.

- Deu super certo e consegui passar. Mas é preciso ter disciplina, os primeiros 15 dias são os mais difíceis.

O neurologista faz uma ressalva: o uso do Sono Polifásico não deve ser permanente, o máximo de experiência que se fez até hoje foi de seis meses. Não há estudos dos efeitos físicos e psicológicos do impacto no sono fragmentado no organismo a longo prazo.