Título: Os erros não são apenas do PT
Autor: Rodrigo de Almeida
Fonte: Jornal do Brasil, 05/03/2005, País, p. A2

Professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisadora do Iuperj, a cientista política Eli Diniz discorda do tom aqui utilizado no sábado passado. A coluna analisava a declaração do presidente Lula de que teria abafado uma denúncia de corrupção do governo de Fernando Henrique Cardoso; o artigo espantava-se, por exemplo, com a confissão de culpa do presidente, na qual admitiu que mandou um subordinado calar a boca frente a uma irregularidade no processo de privatização do antecessor. A cientista política acha que o artigo e a imprensa em geral foram unilaterais na análise das gafes verbais de Lula. Mais: tem havido, segundo ela, dois pesos e duas medidas quando o assunto diz respeito ao tucanato. ''Por que tanto espanto da imprensa? As suspeitas sobre a privatização existem desde o governo Fernando Henrique'', afirma Eli, lembrando que a gestão tucana sufocou todas as CPIs possíveis e fez o que pôde para impedir investigações.

''Há excessiva politização do debate, à semelhança do que ocorre com Hugo Chávez na Venezuela, e que transparece, por exemplo, na sugestão de impeachment, processo conduzido pela oposição e alimentado pela imprensa, com motivações especialmente eleitorais'', resume.

Reconhecida pelas análises tão precisas quanto equilibradas, a professora tem razão quanto ao relativismo ético que costuma reinar na política - e em especial na cobertura jornalística de Brasília. A própria reação do ex-presidente (no estilo ''duro, mas nem tanto'') alimenta a idéia de que a privatização ainda é assunto mal explicado - o que não elimina a falha de Lula ao não fazer o que deveria ter feito, tampouco apaga a lembrança de que o PT, até 1999, espetava o ''Fora FHC'' no coração dos tucanos.

Eli Diniz afirma que se baseia tão-somente nas evidências apresentadas pela imprensa. Exemplo: o trabalho de bastidor do PFL e do PSDB para eleger o deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) presidente da Câmara. Um gesto inconseqüente, segundo ela, na base do ''quanto pior melhor'' e, claro, prejudicial ao futuro próximo do Congresso e do país.

A professora reconhece a responsabilidade dos equívocos táticos cometidos pela articulação política do PT e do Palácio do Planalto, mas acha que tucanos, pefelistas e parte dos pemedebistas estão, no fundo, querendo antecipar as eleições. ''Coincidentemente, no momento em que a avaliação do presidente Lula cresce segundo as pesquisas de opinião'', ironiza.