Título: Lula silencia sobre reforma ministerial
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 05/03/2005, País, p. A2
Presidente se reúne com ministros, mas mantém suspense sobre mudanças
Embora tenha deixado transparecer a seus interlocutores que já teria formatado em sua mente a reforma ministerial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou na última quarta-feira de Montevidéu, Uruguai, fechado em copas. Nas duas reuniões com ministros do núcleo político nos dois últimos dias, manteve o suspense. Segundo ministros que participaram das conversas, apesar de ter comentado o assunto, o presidente manteve o suspense e se cercou de cuidados para evitar fornecer pistas que sinalizassem alguma decisão. - O presidente comentou superficialmente. Lula não está dividindo a reforma com ninguém. Silenciou. Comentou mas sem antecipar nada - disse um ministro.
As quatro horas do encontro de quinta à noite no Planalto foram dedicadas, de acordo com um ministro do núcleo político, a assuntos da área econômica. A reunião de ontem à tarde da coordenação política serviu para que o Secretário de Comunicação, ministro Luiz Gushiken, apresentasse o novo plano de comunicação para os próximos dois anos.
Apesar de estarem na expectativa do anúncio da reforma a qualquer momento, os ministros não ficarão de prontidão em Brasília no fim de semana. Foram autorizados a viajar aos seus estados se assim desejassem.
- O presidente já tem todos os elementos para fazer a mudança - afirmou o chefe da Casa Civil, José Dirceu, ainda em Washington anteontem.
Mas as negociações devem avançar na próxima semana. Restaria uma conversa derradeira com o presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL) e o senador José Sarney (PMDB-AP). E outra com representates do PP. O presidente também deve aproveitar a ida à São Paulo no fim de semana para fazer as últimas consultas ao PT, que reuniu ontem sua Executiva para decidir a punição de um ano a Virgílio Guimarães.
Uma das dificuldades para concluir a reforma, segundo interlocutores do presidente, ainda é conciliar os interesses do governo e dos partidos para consolidação do chamado governo de coalizão. Sobretudo por conta da clara fragmentação dos partidos da bancada governista. Para satisfazer os peemedebistas, por exemplo, o presidente precisa contemplar os dois ''PMDBs''. O da Câmara, do ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, e o do Senado, liderado por Renan e Sarney. O presidente tem os três na mais alta conta.
Também existem os dois PTBs, do ministro Walfrido dos Mares Guia e o do presidente do partido, Roberto Jefferson. O PP do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, também possui três interlocutores: os deputados Pedro Corrêa, Pedro Henry (MT) e José Janene.
Uma das soluções para agradar às diversas alas dos partidos será a de incluir as estatais no rateio da reforma. A dança das cadeiras deve passar pela presidência de pelo menos quatro estatais: Infraero, Transpetro, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil.