Título: Arthur Virgílio desiste de acareação
Autor: Daniel Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 05/03/2005, País, p. A3

BRASÍLIA - O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), pediu ontem à mesa diretora da Casa que considere inválido um requerimento apresentado por ele, na última terça-feira, a fim de garantir a realização de uma espécie de acareação entre o senador Maguito Vilela (PMDB-GO) e empreiteiros na Comissão de Ética e Decoro Parlamentar. O requerimento foi protocolado depois de Vilela afirmar que havia sido procurado por um empreiteiro para, em troca de compensação financeira, retirar sua assinatura de pedidos de instauração de comissões parlamentares de inquérito (CPIs) destinadas a apurar supostos casos de corrupção durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. - Vamos convocar empreiteiro por empreiteiro para que o senador aponte o autor da proposta - declarou Virgílio na ocasião, acrescentando que as declarações do colega levantavam suspeitas sobre a reputação de todo o Senado. Ontem, o líder do PSDB desistiu do requerimento após ouvir as explicações de Vilela.

- Disse que um empreiteiro me formulou uma proposta indecorosa, não generalizei - afirmou o parlamentar goiano.

Vilela também teve como adversário o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que rechaçou a existência de contatos deste tipo no Senado e acrescentou que, caso existam, só são direcionados aos parlamentares que podem ser comprados.

- Não era nosso propósito ofender o senador, mas cabia reação para que a Casa não ficasse marcada - declarou ACM ontem.

Vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC) comemorou o desfecho do caso, dizendo ser feliz a Casa que abriga o diálogo e gestos de entendimento. A desavença entre Virgílio e Vilela aconteceu na esteira da disputa política deflagrada pelo discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na semana passada, em que afirmou ter sido alertado por um alto funcionário da Administração Pública sobre corrupção no governo de FH e ter proibido o interlocutor de divulgar as supostas irregularidades. Na última terça-feira, Virgílio propôs a instalação de duas CPIs para apurar as privatizações realizadas no governo anterior e o escândalo envolvendo Waldomiro Diniz, ex-braço direito do ministro José Dirceu exonerado depois de ser flagrado pedindo propina a um empresário. Na ocasião, o líder do PT no Senado, Delcidio Amaral (MS), disse que as declarações do presidente Lula mostraram apenas que ele tentou impedir a divulgação de denúncias sem provas. Já Vilela preferiu reagir, mencionando a suposta proposta de propina. Ontem, Vilela reafirmou que o governo de FH abafou CPIs, como a da compra de votos para garantir a aprovação da emenda da reeleição. Na próxima semana, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, decide sobre o pedido de abertura de processo por crime de responsabilidade contra Lula, protocolado pelo PSDB, em razão da divulgação da conversa com o alto funcionário da Administração Pública.