Título: Medida veio tarde
Autor: Luciana Otoni
Fonte: Jornal do Brasil, 05/03/2005, Economia & Negócios, p. A17

As medidas anunciadas pelo Conselho Monetário Nacional ajudam a desburocratizar as operações de câmbio, reduzem custos e simplificam a vida de exportadores e importadores, afirmam analistas. Mas não deverão ter impacto no fluxo de divisas, ou seja, não devem fazer com que entrem ou saiam mais dólares no país. No setor exportador, a reação com as novas medidas foi de otimismo moderado.

- Teoricamente, ao se unificar o câmbio, deve haver equilíbrio maior na cotação. A unificação é, em princípio, bem-vinda. Mas, como sempre, é o mercado que vai definir o comportamento do câmbio - afirmou José Augusto de Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

Para o presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), Roberto Segatto, a decisão veio com um certo atraso.

- É uma medida desburocratizante que atende a alguns pleitos do nosso setor, mas isso (a unificação) já deveria ter sido feito há muito mais tempo - disse.

A mesma visão é partilhada por Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

- Por que não foi feito antes? Essa é a questão que fica. O anúncio trouxe boas novidades, mas, na prática, a cotação deve mudar muito pouco.

Desde o início da valorização do real, a partir do fim do ano passado, os setores ligados ao comércio exterior se queixam da perda de competitividade das exportações.

Para Emilio Garofalo Filho, ex-diretor do BC e consultor, as medidas são praticamente inócuas com a atual condução da política monetária.

- Com essa taxa de juros tão elevada, o exportador vai vender os dólares de qualquer jeito. Com juro tão alto, poucos vão aproveitar essa prerrogativa de vender dólares 210 dias depois - afirma.