Título: Lessa: situação da Light é uma 'tragédia'
Autor: Mariana Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 05/03/2005, Economia & Negócios, p. A19

Ex-presidente do BNDES diz que distribuidora de energia não merece ter acesso a recursos do banco

Uma tragédia. Foi dessa forma que o ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Carlos Lessa, classificou a situação financeira da Light. Segundo ele, a empresa não adotou políticas de boa governança corporativa e, por isso, não deve ter acesso a recursos do banco oficial.

- Se um operador está funcionando mal, tem que cair de pau em cima dele, com todos os procedimentos que o poder público dispõe - disse.

A Light vai negociar com credores privados uma parcela de R$ 600 milhões para ter direito à linha de socorro para as distribuidoras de energia lançada pelo BNDES em 2003. Ao aderir ao programa, a Light teria o direito de sacar R$ 250 milhões. Lessa, no entanto, disse que a empresa ainda não provou que será bem governada.

O professor da UFRJ acabou falando da Light ao criticar o modelo de privatização feito na administração anterior. O ex-presidente do BNDES foi ontem ao Ministério Público Federal para depor a procuradores que investigam a venda da Eletropaulo à americana AES.

Em 2003, a controladora não honrou o pagamento de uma parcela de R$ 1,2 bilhão ao banco oficial, o que segundo Lessa, poderia ter levado o BNDES ao primeiro prejuízo da história naquele ano. Sob seu comando, o banco conduziu a negociação que foi encerrada mais de seis meses depois do calote, às vésperas do encerramento do exercício.

- O grupo controlador só entrou firme na negociação quando saiu o balanço semestral do banco, com prejuízo colossal de R$ 2,4 bilhões. Talvez eles tenham sentido que essa diretoria do BNDES não tinha medo de encaixar a dívida no seu balanço - avalia.

Lessa voltou a dizer que recebeu esqueletos de herança da antiga gestão, como a AES, mas evitou citar nomes de empresas. Segundo ele, a relação com a controladora da Eletropaulo, no entanto, era a mais preocupante. Isso porque forçava o banco a provisionar recursos que engessariam a disponibilidade de recursos para empréstimos.

- Entrar em um contencioso como esse levaria de sete a dez anos. Tanto o Tribunal de Contas da União quanto o governo aplaudiram o que o BNDES fez - lembra Lessa.

Na ocasião, o banco converteu a dívida em ações da elétrica, ficando com 50% menos uma ação do capital votante da companhia.

O processo do Ministério Público corre na primeira instância de São Paulo e investiga a suspeita de improbidade administrativa na privatização da empresa. No processo, são citados quatro ex-presidentes do BNDES.