Título: Rei da Noite e empresário processado
Autor: Florença Mazza e Marco Antônio Martins
Fonte: Jornal do Brasil, 05/03/2005, Rio, p. A13

O espanhol Francisco Recarey Vilar chegou ao Brasil aos 13 anos. Veio de Santiago de Compostela e, ao desembarcar, começou a trabalhar no hotel de um tio, no Catete. Meses depois virou garçom em um restaurante chamado Palácio de Cristal, na Lapa. Em seguida comprou o botequim Três e Vinte, no Leblon, onde passou a funcionar a Pizzaria Guanabara. Na década de 80, Recarey ficou conhecido como o Rei da Noite e chegou a ter mais de 40 empreendimentos pelo país. Recebeu da Câmara dos Vereadores o título de cidadão honorário do Rio e costumava dizer: ¿Sou carioca. Me sinto carioca. Nunca vou deixar a cidade que escolhi para viver¿.

Quando abriu a gafieira Asa Branca, em 1983, vieram para a inauguração o rei da Espanha, Juan Carlos, e a rainha Sofia. Também estavam lá os políticos Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, que na época eram governador e vice do Rio. Recarey chegou a declarar: ¿Acho que, a meu modo, sou um embaixador da Espanha no Brasil.¿

Em 1984, inaugurou o Scala. A casa de shows, cópia do Scala de Barcelona, era na época a maior da América Latina. Dois anos depois, a casa foi dividida em Scala 1 e 2. Em 1988 um incêndio atingiu o Scala 1. Um ano depois, a falta de segurança fez com que o local fosse interditado e o Scala 1 foi transformado na discoteca Babilônia, depois Gipsy e depois Bingo Scala. A Defesa Civil fechou o Scala 2 em 1990.

Em 1989, o empresário foi homenageado pela Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, que levou para a avenida o enredo Trinca de Reis e terminou em 11º lugar.

No ano seguinte Recarey foi acusado de violentar uma menor e o pai dela denunciou uma rede de prostituição que estaria ligada ao empresário. O inquérito foi arquivado por falta de provas. Em 1991, Recarey se viu envolvido em outro processo: porte de arma contrabandeada. Uma metralhadora Uzi foi encontrada em seu carro.

Em 1994, a Boate Help, em Copacabana, foi apontada como um ponto de prostituição de crianças e adolescentes. O nome de Recarey, um dos sócios da casa, apareceu no relatório de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Prostituição Infanto-Juvenil. O empresário disse que nada tinha a ver com a administração do local.

No mesmo ano foi processado por sonegar o INSS, denunciado por não repassar as contribuições descontadas dos funcionários do Asa Branca entre maio de 1992 e junho de 1993.

Ainda em 1994, Recarey inaugurou o Scala Bingo, primeira casa do gênero no Brasil. Tempos depois, ele inaugurou o Bingo 13 de Maio. Em 1995, Chico Recarey já era dono de oito casas de bingo. Uma CPI da Câmara dos Deputados que apurava irregularidades em bingos confiscou documentos de alguns de seus empreendimentos.

Nesse mesmo ano, dois filhos de Recarey, Marcelo e Chiquinho, começaram a assumir parte dos negócios.

A maré de azar continuou. Depois de 15 anos dominando a concessão para os serviços de bufê na maioria dos camarotes do Sambódromo, Recarey ficou fora da avenida em 1996. Ele perdeu a concorrência. Meses depois, uma funcionária da Defesa Civil municipal, que havia ido ao Bingo 13 de Maio, o acusou de racismo. Nessa época, foram descobertas outras quatro acusações contra o empresário na Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa.

Em 2001, o Bingo 13 de Maio foi interditado por fiscais da Caixa Econômica Federal, por estar na lista de casas irregulares. Uma ação penal contra ele e seus dois filhos foi aberta. Foram acusados de sonegação fiscal.

Um ano depois a Light o processou por furto de energia no Bingo 13 de Maio, no Bar e Restaurante Mediterrâneo e na Pizzaria Guanabara. Em 2002 também foi denunciado no crime de exploração de jogo de azar. Em 2003, o empresário foi condenado a pagar multa por furto de energia na pizzaria. Na quarta-feira passada, a Light suspendeu o fornecimento de energia do Scala. O corte foi motivado por uma dívida de R$ 1.630.723,78, de contas em aberto do ano de 2003.