Título: Mulheres, a maioria invísivel
Autor: Kelly Oliveira
Fonte: Jornal do Brasil, 05/03/2005, Brasília, p. D8

Elas representam 54,6% da população brasileira. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, (IBGE), em 2003, o número de mulheres no Brasil era de 89,1 milhões. Muitas delas sofrem preconceitos no trabalho, na rua e mesmo na família. Interessadas em estudar o gênero feminino e as discriminações sofridas pelas mulheres, um grupo de cinco professoras de diferentes áreas da Universidade de Brasília (UnB) se reuniu em 1986 para criar o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (Nepem). Desde então, o grupo desenvolve trabalhos acadêmicos, assessora instituições públicas e participa de congressos, conferências e palestras que discutem questões ligadas à mulher.

O núcleo é ligado ao Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Ceam) da UnB e absorve pesquisadores de diversas áreas da universidade. Estudantes e professores trabalham em áreas de pesquisas específicas, todas relacionadas à mulher: violência e gênero; saúde e violência; violência e segurança pública; gênero, raça, etnia e nacionalidade; imagem e comunicação.

- Nossos estudos são alternativos, multidisciplinares e comprometidos com as injustiças. Derivam da forma como se tratam as diferenças - explica a professora do Departamento de Antropologia da UnB Miréya Suárez, uma das fundadoras do núcleo.

O Nepem oferece assessoria para implementação de políticas ao Congresso Nacional e outros órgãos governamentais, mas não presta consultoria a outras instituições.

- Ajudamos as instituições que nos pedem ajuda, mas não cobramos por isso - afirma Miréya.

O Nepem trabalha em conjunto com a ONG feminista Agende em algumas atividades.

O núcleo é aberto a alunos de graduação ou pós de todos os departamentos da universidade e a professores que tenham no currículo estudos na área de gênero. O número de estudantes cadastrados no Nepem varia a cada semestre, mas está em torno de 25. A maioria dos alunos de graduação recebe bolsa de iniciação científica, por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), ou de apoio técnico, pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

A mestranda em Antropologia Ana Julieta Teodoro Cleaver, 28 anos, participa do Nepem desde 1997. Entrou no núcleo para desenvolver estudos sobre segurança pública e resolução de conflitos.

- A questão do gênero tem importante papel na pesquisa pois influencia a minha visão do outro - afirma a estudante que diz ter se surpreendido com o estereótipo assumido pelas brasileiras na Guiana Francesa que são freqüentemente associadas à prostituição.

Luciana Navarro, UnB Agência