Título: Persiste a discriminação sexista
Autor: Kelly Oliveira
Fonte: Jornal do Brasil, 05/03/2005, Brasília, p. D8

O imaginário sobre a brasileira no exterior também chamou a atenção da mestranda em Antropologia Carolina Carret Höfs. Ela passou um mês e meio em Paramaribo, capital do Suriname, para fazer o trabalho de campo de sua pesquisa sobre migrações, fronteiras e trânsitos identitários. Muitos brasileiros vão ao Suriname para ganhar a vida. Alguns conseguem. Vivem do garimpo e de pequenos comércios. As brasileiras, porém, não têm a mesma sorte. Muitas acabam vivendo da prostituição. Nas palestras que as professoras dão ao longo do ano, principalmente, no período próximo ao dia 8, elas põem em discussão temas de importante relevância social. De acordo com dados do IBGE, em 2003, o rendimento de 49% das mulheres era de até um salário mínimo. Para os homens, esse o número era 32%. Em 2001, a proporção era de 46,2% para 29,5%, o que demonstra um agravamento do desnível de renda, pois o percentual de mulheres incluídas neste grupo cresceu 2,8 pontos percentuais e o dos homens, 2,5. Apesar de as mulheres terem, em média, um ano a mais de estudo - 8,4 contra 7,4 - há uma desigualdade dos salários.

Segundo a professora Lourdes Bandeira, coordenadora do Nepem, há um discurso paradoxal que afirma que as mulheres estão aptas a assumir postos em diversas instituições e, na prática, existem mecanismos que fazem as mulheres continuarem em condição de insubordinação com, por exemplo, salários diferenciados.

- Além dos salários serem diferentes, o acesso aos postos de poder são boicotados por mecanismo reais e simbólicos como, a idéia de que a mulher se atrasa mais, é mais fofoqueira, mais sensível - diz Lourdes.

Para a pesquisadora, a mulher está associada à idéia da fragilidade, da escuta, do cuidado, de todas as atividades da maternidade e o homem é associado à idéia de poder, decisão.

- Nas empresas públicas, as mulheres ganham o mesmo que os homens, mas quando se trata de assumir cargos de poder, há uma discriminação sexista, dissimulada - diz.

a própria UnB, as mulheres participam mais das atividades acadêmicas, mas poucas assumem cargos de comando. O número de alunas de pós-graduação matriculadas em 2005 supera em 9,2% o de homens. Entretanto, dos 334 grupos de pesquisas da UnB, apenas 133 são liderados por mulheres.

- Na universidade, há um reconhecimento das mulheres, mas dizer que elas, além da competência acadêmica, têm capacidade de liderança é complicado - critica Lourdes.