Título: Com açúcar e afeto
Autor: Paula Barcellos
Fonte: Jornal do Brasil, 05/03/2005, Ideias & Livros, p. 1

Mulheres até 40 anos são responsáveis pelo sucesso de vendas das séries da Nova Cultural

A tão cantada, em prosa e verso, ''nova mulher'', esta heroína que surgiu a partir dos anos 60 e se transformou numa poderosa e muito atuante ''player'', social, sexual e economicamente ativa, no antes exclusivamente masculino ''mundo fora do lar'', foi, com certeza, a protagonista de uma das maiores revoluções de costumes da história. Mas, acreditem ou não, nunca abriu mão de sonhar com seu dia de Cinderela em sapatinhos de cristal, mesmo que não se esforce em divulgar muito este lado do seu perfil. Pelo menos é o que vem constatando, ao longo dos últimos 25 anos, a editora Nova Cultural com seu segmento ''Romances'', livros com açucaradas histórias de amor vendidos em bancas em edições de baixo custo - com preços entre R$ 4,90 e R$ 12 - e que alcançam mais de quatro milhões de exemplares vendidos por ano, batendo, no mercado interno, autores campeões como Paulo Coelho e Luís Fernando Veríssimo. A série Romances responde por 35% do faturamento da editora. Esse patamar de vendas de quatro milhões de livros da série foi alcançado em 1998 e, desde então, se mantém. Mas a Nova Cultural pretende agora ampliá-lo, partindo para o reposicionamento da categoria, em bases que considera mais reais.

- A série vive, hoje, uma situação no mercado similar às sandálias Havaianas há 30 anos. Todo mundo usava, mas ninguém confessava. Hoje ela é este sucesso fashion de nível mundial. Nova intenção é fazer um trabalho semelhante - afirma a editora Janice Florido.

Janice deixa claro que, em nenhum momento, a editora pensa que a série tem a mais remota pretensão de atender à chamada ''grande literatura'', mas garante que são edições bem cuidadas, com traduções de qualidade. Segundo ela, ''os livros têm a função básica de entreter mas têm representado para muitas leitoras a porta de entrada para a literatura mais sofisticada''.

Para Janice não é raro começar-se lendo Barbara Cartland, a adorável lady inglesa, avó de Lady Di e que foi um dos ícones destes romances açucarados que produziu em profusão em sua longa vida, e acabar gostando de Machado de Assis.

A editora garante, por pesquisas e pela movimentada correspondência, que a série tem leitoras de todas as classes sociais e nível cultural.

- É hora de assumirmos o prazer de uma leitura de entretenimento e, no caso, uma que faça bem à alma feminina, sem violência, sem mortes, com grandes histórias de amor, com final feliz. Afinal, que mulher pode negar que gostou de um filme como Nothing Hill?? - questiona a editora.

Obviamente, para atender à nova mulher, as heroínas e as histórias são muito diferentes das recatas vidas das moçoilas das páginas da Biblioteca das Moças de que as mulheres com mais de 50 anos ainda se lembram.

- As histórias acompanham os tempos, falam de Aids, uso de camisinhas, o sexo antes do casamento é corriqueiro e bem aceito e as histórias tratam de temas mais sensuais. O grande romance não acaba do lado de fora da porta da alcova como antigamente, quando ficava tudo na imaginação da leitora - assegura Janice.

Mas, imutável no tempo, toda história tem que ter um final feliz, ou encalha na banca. O público do ''Romances'' é 99% feminino, e a faixa etária vai dos 19 aos 40 anos, mas varia por região segundo pesquisa qualitativa e quantitativa realizada pela editora no país. No Nordeste, os livros atingem um grupo mais jovem, no sul e sudeste mulheres entre 30 e 45 anos, no centro-oeste mulheres de 20 a 30 anos. Os livros são consumidos da classe C à classe A, com predomínio da classe B. O segmento da Nova Cultural é composto por nove séries, algumas delas subdivididas. ''Sabrina'', ''Julia'' e ''Bianca'' são as mais antigas, agora reforçadas pela também superpoderosa Mirella, com histórias mais picantes. Há ainda a série de Barbara Cartland , a Best Seller, as séries ''Clássicos Históricos'' I e II, os ''Especiais'' e ''Super Romances''. A campeã, a série ''Sabrina'', tem ainda as versões ''Sabrina Especial'' e ''Super Sabrina''. Vende 100 mil exemplares por mês, em quatro edições semanais.

Cada série do segmento ''Romances'' tem características próprias. Assim, ''Bianca'' trata mais do cotidiano de pessoas comuns; ''Sabrina'' é mais romântica e ''Julia'' fala de mulheres mais modernas e independentes. A série Best Seller traz o que a editora chama de títulos consagrados no mercado. E seu último lançamento, de número 79, é A fabulosa Emily, de Jacqueline de Montravel.

- Além de só aceitarem finais felizes, nossas leitoras adoram ilustrações com homens bonitos. Com eles na capa a edição vende mais, mas se a imagem não condiz com o conteúdo da história, elas reclamam - afirma Janice.

O estrangeirismo dos nomes nos livros é conseqüência de serem, quase em 100%, traduções de títulos da Kensington Books, a maior editora do gênero nos EUA, que vende cerca de 6 milhões de exemplares por ano no mercado americano. A série de Barbara Cartland, de origem inglesa, vem de outra editora. Mas a Nova Cultural começa, agora, a investir também em autores nacionais.