Título: Reforma ministerial na mesa de Lula
Autor: Sérgio Pardellas e Sérgio Prado
Fonte: Jornal do Brasil, 09/03/2005, País, p. A3
No novo governo de coalizão, PMDB fica com Integração Nacional e Previdência, PP com Trabalho e Ciro Gomes com a Saúde
Está na mesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma solução para o quebra-cabeça da reforma ministerial que está para ser anunciada a qualquer momento. Até o fim da tarde de ontem, segundo dois dos mais assíduos interlocutores de Lula nos últimos dias, o cenário mais provável da reforma colocava o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira (PMDB), na Integração Nacional, com Ciro Gomes sendo remanejado para o Ministério da Saúde; a senadora Roseana Sarney (PFL-MA) nas Comunicações; o senador Romero Jucá (PMDB-RR) na Previdência Social, no lugar de Amir Lando, que seria indicado pelo Senado para o Tribunal de Contas da União (TCU); e Pedro Henry (PP) no Ministério do Trabalho.
Restariam as definições para o Ministério do Planejamento, Cidades e Desenvolvimento Social. Um dos nomes em avaliação, indicado pelo PP para ocupar uma dessas pastas, é a da ex-prefeita de Florianópolis, Angela Amin cuja reputação de idônea e administradora competente seduziria o presidente Lula, que gostaria de contar com mais representantes da ala feminina na Esplanada.
Segundo a mesma fonte, Aldo Rebelo (PCdoB) permaneceria na Coordenação Política, só que sob novo modelo. Uma das hipóteses é vincular a pasta à Casa Civil, o que materializaria a chamada gestão compartilhada da articulação política, à frente os ministros José Dirceu, Aldo e o futuro líder do governo na Câmara. O núcleo político do Planalto formado pelos ministros Luiz Dulci, da Secretaria Geral da Presidência, Jacques Wagner, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Antonio Palocci, ministro da Fazenda, Aldo e Dirceu, permaneceria intacto.
Antes de bater o martelo, porém, Lula ainda precisa aparar algumas arestas. O deputado Pedro Henry (PP), por exemplo, é o nome preferido de Lula e Dirceu para o Trabalho, mas deixou de ser unanimidade no partido. José Janene joga areia na indicação.
De acordo com um auxiliar direto do presidente, Ciro também estaria criando obstáculos para a ida de Eunício para a Integração. Teria dito que aceita ser remanejado para a Saúde, desde que não cedesse a Integração ao peemedebista. Os dois teriam objetivos políticos semelhantes no Ceará.
Hoje, contudo, o Planalto estaria predisposto a ampliar o espaço de Eunício, a quem Lula tem na mais alta conta. A Integração é uma das meninas dos olhos do PMDB por possuir um orçamento de R$ 1,1 bilhão em 2005 e tocar a mais emblemática obra do governo, a transposição do Rio São Francisco, orçada em R$ 4,5 bilhões. O centenário projeto é emblemático, pois tem como alvo levar água a 11 milhões de pessoas.
Por outro lado, ainda é uma incógnita a permanência de Olívio Dutra, que ocupa Cidades. O PMDB tentou várias vezes abocanhar o ministério, pois seu perfil é voltado para o trabalho com as prefeituras. Este detalhe é considerado crucial no jogo político de 2006. Afinal de contas, a pasta tem só da Caixa Econômica Federal a promessa de liberação de R$ 10,5 bilhões neste ano para obras de saneamento e habitação.
Se pairam dúvidas sobre o destino de Olívio, Roseana e Jucá só não integrarão o Ministério de Lula em caso de uma inesperada reviravolta de última hora. Roseana conta com as bençãos de quatro pesos pesados do Executivo e Legislativo nacional: seu pai, senador José Sarney (PMDB-AP), o líder do governo no Senado, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e o ministro José Dirceu.
Jucá é uma indicação pessoal de Renan, e é bem visto pelo Planalto, pois tem ajudado a desamarrar nós complicados para o governo no Senado. Foi assim na tramitação da reforma tributária, em 2003, e agora na MP 232, que aumenta impostos de prestadores de serviços.
As alterações na Esplanada chegaram a ser esboçadas domingo à noite numa reunião entre os ministros Antonio Palocci, da Fazenda, Jaques Wagner, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Luiz Dulci, da Secretaria-Geral da Presidência e o presidente do PT, José Genoino. No encontro, foi sublinhada a necessidade do anúncio da reforma até o fim da semana, sob pena de comprometer o andamento da máquina administrativa.
- O Humberto Costa está beirando o infarto de tanta pressão - disse Luiz Dulci durante a reunião.
Lula deve dedicar os próximos dias para examinar com acuidade as listas de nomes encaminhadas pelas lideranças dos partidos. Além dos ministérios que ainda faltam ser definidos, a reforma ainda envolverá as estatais, as agências reguladoras e importantes cargos de segundo escalão. A ampliação do leque da reforma é uma das maneiras encontradas pelo presidente para contemplar todas as alas dos partidos governistas, o que consolidaria o ''governo de coalizão''.
Anunciado o novo ministério, conforme apurou o JB, os novos ministros irão reafirmar os compromissos com as principais teses do governo, como o crescimento econômico, investimentos no social, infra-estrutura e geração de empregos. A intenção seria evitar passar um quadro de ''coalizão fisiológica'', restando ainda quase dois anos para o fim do mandato.