Título: IBGE: mais solitárias depois dos 50
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 09/03/2005, País, p. A4

Pesquisa indica que mais de 70% das mulheres que vivem sozinhas estão acima dessa faixa etária

Folhapress

A Síntese dos Indicadores Sociais, divulgada pelo IBGE, mostra que 71% das mulheres que bmoram sozinhas têm mais de 50 anos. A mesma e solitária realidade é vivida por 13% das senhoras entre 60 e 74 anos e 21% das de 75 anos ou mais. Segundo o instituto, a estatística pode ser explicada não só pela maior expectativa de vida das mulheres, mas também por aspectos culturais.

A tendência é mais forte nas regiões Sul e Sudeste, onde as mulheres com mais de 50 anos respondem por 72,1% e por 73,2%, respectivamente, do universo de mulheres que moram sozinhas. No Nordeste, merecem destaque os estados de Alagoas, com 81,5%, e da Paraíba, com 80,8%.

A economista do IBGE Cristiane Soares classifica o fenômeno como ''efeito Copacabana''. O bairro carioca tem a maior concentração de idosos da cidade do Rio.

- São em geral pessoas que têm uma condição econômica razoável para morar sozinhas - diz Cristiane Soares.

A expectativa de vida também interfere nos números. As mulheres vivem em média 75,2 anos e os homens, 67,6 anos. Com isso, a oferta de homens, que em qualquer faixa etária é menor do que a de mulheres, torna-se ainda mais escassa.

Segundo a antropóloga e professora da UFRJ Miriam Goldenberg é a partir dos 50 anos que os homens começam a casar de novo e, normalmente, com mulheres mais jovens:

- É cultural, eles são ensinados que a mulher mais jovem é mais atraente. Se têm chance de escolher, por que ficariam com uma mulher da idade deles, que é desvalorizada no mercado afetivo sexual?

Segundo Goldenberg, embora as mulheres mais velhas estejam promovendo uma verdadeira corrida contra o tempo para retardar os efeitos do envelhecimento, o aspecto demográfico fará sempre com que a oferta favoreça as mais jovens.

- Hoje a mulher de 50 anos tem muito mais capital físico para entrar nessa disputa, mas por mais que cuide do rosto, do corpo, ainda assim será uma mulher de 50 anos - diz.

A solução, segundo a antropóloga, é ''olhar para o lado''. Para Goldenberg, os homens aprenderam há muito tempo a olhar para mulheres de diferentes classes sociais, nível de instrução e aspectos culturais diversos. O ideal feminino de masculinidade permanece sendo o do homem mais velho e de mais instrução.

- A mulher brasileira está mudando por causa da realidade que enfrenta. É uma contradição estar num mercado tão desfavorecido e ser tão exigente - afirma.

O número de homens que moram sozinhos com idade superior a 50 anos é de apenas 42,4%. Entre os mais velhos, de 60 a 75 anos, é de 8,6%. A menor tolerância à solidão também ajuda a explicar a diferença, segundo Goldenberg.