Título: Fernando Henrique critica Bush em Madri
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Fonte: Jornal do Brasil, 09/03/2005, Internacional, p. A7

Ex-presidente abre cúpula sobre democracia e terrorismo

MADRI - A Cúpula Internacional sobre Democracia, Terrorismo e Segurança começou ontem na capital espanhola com um discurso do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que preside o Clube de Madri - instituição composta por ex-chefes de Estado e que organiza a reunião. Na conferência, convocada por ocasião do primeiro aniversário dos atentados de 11 de março em Madri, FHC destacou que a democracia ''não pode ser reforçada em nível nacional para depois ser socavada internacionalmente''.

Em clara referência ao presidente dos EUA, George Bush, o ex-governante indagou ''como é possível um dirigente mundial carregar a bandeira da liberdade e da democracia dizendo que estes são seus principais objetivos quando, ao mesmo tempo, impulsiona políticas que desautorizam e diminuem a força da ONU?''.

Segundo o ex-presidente, qualquer ação unilateral, ''por mais contundente que seja'', é insuficiente, já que o terrorismo ultrapassa fronteiras.

- O unilateralismo não faz mais do que debilitar o sistema internacional, incrementando a sensação geral de insegurança - destacou. - Para lutar contra este fenômeno complexo é imprescindível reforçar a confiança e a cooperação internacional entre povos e governos - disse, acrescentando que ''os meios empregados devem refletir os fins perseguidos''.

O ex-presidente, que disse ser preciso conjugar força e resistência, destacou ainda ser fundamental haver um comprometimento com a ordem jurídica do ponto de vista internacional e nacional.

Para Fernando Henrique, o terrorismo se alimenta da humilhação e do ressentimento e o desafio comum é obter um consenso entre as nações democráticas.

Da cúpula, que terminará amanhã e para a qual foram mobilizados 7 mil policiais, participarão 20 chefes de Estado e de governo, mais de 30 ex-governantes e aproximadamente 200 especialistas, entre eles o secretário-geral da ONU Kofi Annan. Os participantes tentarão chegar às linhas básicas de atuação para garantir uma resposta democrática e eficaz ao terrorismo.