Correio Braziliense, n. 21.144, 15/04/2021, Saúde, p. 29

 

Ampliado teste com combinação de vacinas

15/04/2021

 

 

Pesquisadores da Universidade de Oxford também anunciaram ontem que vão expandir um estudo que avalia o uso combinado de vacinas contra a covid. O trabalho, nomeado Com-Cov, teve início em fevereiro, com análises feitas com o imunizante britânico e o da Pfizer/BioNTech. Nas próximas etapas, os responsáveis incluirão as fórmulas protetivas das empresas Moderna e Novavax.

"O foco desse estudo é explorar se as múltiplas vacinas da covid-19 que estão disponíveis podem ser usadas de forma mais flexível", enfatizou, em entrevista coletiva, Matthew Snape, professor-associado de Pediatria e Vacinologia da Universidade de Oxford, que lidera a pesquisa. A equipe pretende recrutar adultos com mais de 50 anos que receberam a primeira dose da vacina britânica nas últimas oito a 12 semanas, com 175 indivíduos submetidos aos três regimes combinados.

"Se pudermos mostrar que esses esquemas mistos geram uma resposta imune tão boa quanto os esquemas padrão e sem um aumento significativo nas reações à vacina, isso permitirá que mais pessoas concluam seu curso de imunização contra covid-19 mais rapidamente", explicou Snape. "O que espero é que não descartemos nenhuma combinação. É assim que devemos olhar para as coisas — existem misturas que não deveríamos dar porque não geram uma boa resposta imunológica, e espero que não seja o caso", afirmou. A expectativa é de que os resultados preliminares dos testes sejam divulgados em junho ou julho.

Falhas amenizadas

Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), avalia que a pesquisa pode ajudar a otimizar a vacinação em todo o mundo caso renda resultados positivos. "Chamamos essa estratégia de vacinação mista, de intercâmbio ou de heterólogos. Ela é explorada para lidar com cenários de desabastecimento de imunizantes, que podem ocorrer principalmente em países em situações mais complicadas, como no continente africano, e também em falhas de produção, a que todos estamos sujeitos. É provável que muitas regiões recebam, primeiro, uma leva de determinada vacina e, só depois, outra. Misturar pode evitar que a vacinação pare caso ocorram falhas nesse processo", detalhou.

Outra vantagem que pode surgir na pesquisa de mistura de vacinas, segundo Kfouri, é aumentar a resposta imune gerada pelo organismo imunizado. "Pode ser que, ao usar duas tecnologias distintas, dando primeiro uma dose de uma vacina de vírus inativado, por exemplo, e depois uma dose de um imunizante de RNA, o sistema imunológico gere uma proteção ainda maior. Pode ser também que isso não ocorra, mas só vamos saber testando", explicou (VS).