Título: Indústria pisa mais forte no freio
Autor: Luciana Otoni
Fonte: Jornal do Brasil, 09/03/2005, Economia & Negócios, p. A19

CNI aponta queda de 1,97% nas vendas em janeiro. Desde setembro, faturamento já caiu 4,2%

A indústria entrou em 2005 com o pé esquerdo. Os indicadores industriais divulgados ontem pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI) mostram que as vendas reais do setor recuaram 1,97% na comparação com dezembro, considerados os ajustes sazonais, e que as horas trabalhadas tiveram retração de 2,05% em relação ao último mês de 2004. O baixo aumento apurado no número de pessoas empregadas e salários pagos, de 0,27% e 0,18%, respectivamente, reforça os sinais da perda de dinamismo no setor industrial. A CNI aponta dois motivos que levaram à redução no fôlego das indústrias: a alta base de comparação de 2004 e o efeito da elevação dos juros, cuja taxa básica (Selic) passou de 16% em setembro para 18,75% em fevereiro. A trajetória de expansão dos juros já provocou queda de 4,2% nas vendas da indústria.

A utilização da capacidade instalada também se reduziu, de 82,9% em dezembro para 82,4%. Sem os efeitos sazonais (típicos do período do ano), o indicador atingiu 81%, o maior percentual desde 1992. E, ante o mesmo mês de 2004, os indicadores apresentam alta de 3,13% nas vendas reais.

A desaceleração verificada em janeiro frente a dezembro é a continuação do enfraquecimento das atividades industriais iniciada ainda no fim do ano passado. Nesse sentido, o setor projeta que em 2005 as indústrias manterão uma trajetória mais lenta de crescimento.

O coordenador da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, apontou a melhora da situação macroeconômica do país como um estímulo à permanência da expansão, ainda que em bases menores.

- Temos superávit em transações correntes, estamos nos encaminhando para o equilíbrio fiscal e há crescimento da renda, que resulta em aumento do consumo - comentou.

A CNI avaliou que o mercado doméstico começou a apresentar uma participação maior na expansão das atividades produtivas. Nesse aspecto, considera-se a tendência de redução das receitas obtidas com as exportações face à desvalorização do dólar e o indicativo de um ambiente menos inóspito para o emprego no cenário interno.

Em janeiro, o emprego industrial avançou 0,27% na comparação com dezembro. Um fato relevante é a evolução do emprego na indústria da transformação há 13 meses consecutivos, com alta de 7,3% no período.

Ante janeiro de 2004, o crescimento é ainda mais expressivo. Os empregos subiram 7,1%, as horas trabalhadas, 8,17% e os salários líquidos, 10,48%.

Para a CNI, o alto aproveitamento do parque fabril no início do ano, período tradicionalmente fraco, sinaliza que o investimento em máquinas e equipamentos é tema prioritário para 2005.