Título: Esplanada pára pelas vítimas de criminosos
Autor: Lorenna Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 09/03/2005, Brasília, p. D3

Manifestantes querem mudar Código Penal e manter figura de crime hediondo

O barulho dos carros na Esplanada dos Ministérios foi abafado pelo silêncio. Cerca de 500 pessoas se calaram ontem por um minuto para lembrar as vítimas de crimes violentos de todo o Brasil. Várias delas eram mães de vítimas, que viram no Dia Internacional das Mulheres não uma data comemorativa, mas sim o dia de se pedir paz. Com o nome daquela que há exatos três meses foi vítima de um dos crimes que mais chocou a sociedade brasiliense nos últimos anos, o Movimento Maria Cláudia pela paz foi oficialmente lançado ontem. A estudante de 19 anos Maria Cláudia Del'Isola foi assassinada dentro da própria casa no dia 9 de dezembro de 2004 por empregados da família. Os pais da menina Cristina Maria Del'Isola e Marco Antônio Del'Isola, junto a mães e parentes de vítimas da violência entregaram aos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado uma carta que pede mudanças no Código Penal e que não se revogue a Lei do Crime Hediondo. Além da entrega do documento, uma série de manifestações artísticas marcaram o ato público.

Em torno da instalação do artista plástico Siron Franco - uma grande cruz preta com recortes de jornais e revistas noticiando a violência - os participantes deram as mãos e rezaram. Na oração, a frase Que a nossa vitória não seja a vingança, mas o perdão. Perguntada se era possível perdoar a barbaridade que sofrera, Cristina disse ainda não estar preparada para responder. Apesar do sofrimento, Marco Antônio lembrou disse se sentir no dever de lutar contra a impunidade.

- Eu sou um cidadão comum, como qualquer um de vocês. Mas minha família foi destroçada, somos hoje três sobreviventes e um anjo no céu. A partir da nossa dor, queremos mostrar aos governantes que a sociedade não pode mais viver com esse sentimento de insegurança que nos persegue - apontou Marco Antonio.

Para marcar o pedido de paz, cerca de 300 pombas foram soltas. Enquanto elas voavam no céu, integrantes do Coral de Cinquentões da UnB cantavam músicas pedindo paz.Durante o ato público, o senador Paulo Octávio (PFL/DF) lembrou a importância da punição aos criminosos.

- Se o assassino da Maria Cláudia tivesse sido preso pelo crime que cometeu na Bahia (o caseiro era foragido da justiça, condenado por tentativa de homicídio) ela ainda estaria entre nós - apontou o senador.

Para a psicóloga Maria José Nolasco, mãe de Pedro José Nolasco, morto aos 18 anos passado por um adolescente de 15 anos em abril do ano passado, o que o movimento espera é uma resposta da justiça.

- O que nós queremos é o direito de criar nossos filhos sem medo - pede.