Título: Presidente evita discurso em visita ao Rio
Autor: Sérgio Pardellas e Sérgio Prado
Fonte: Jornal do Brasil, 10/03/2005, País, p. A3

Um dia depois de criar polêmica em discurso, ao afirmar que as mulheres são ''desaforadas'' e têm ''pressa de poder'', o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se fechou em copas ontem. Ao participar da cerimônia de batismo de um submarino no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, Lula evitou até falar. A leitura de uma mensagem do presidente foi feita pelo relações-públicas da Força. Do palanque, ele ouviu calado.

Durante as duas horas em que permaneceu na cidade, o presidente esquivou-se da imprensa. Segundo a assessoria de comunicação do Planalto, é de praxe nas Forças Armadas apenas a leitura da Ordem do Dia e de mensagens, como foi feito.

A versão da Marinha, contudo, é outra. Segundo a assessoria de imprensa da Força, o protocolo prevê cerimônias curtas, mas ninguém é impedido de discursar. Cabe às autoridades decidir se querem ou não falar. Ainda de acordo com a Marinha, a decisão de não discursar foi tomada pelo Planalto na tarde de terça-feira. A Força recebeu uma cópia da mensagem presidencial com o aviso de que deveria ser lida pelo cerimonial.

Após a cerimônia de batismo, Lula participou de um coquetel com militares e autoridades presentes. O presidente veio acompanhado da mulher, Marisa, e do vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar. O senador Marcelo Crivella (PL-RJ) também integrava a comitiva. Nenhuma autoridade do governo do estado foi ao evento. Depois da confraternização, Lula seguiu para uma visita de 20 minutos ao interior do submarino. Lá, brincou com o painel de controle da embarcação.

Batizado de Tikuna, o submarino é o quarto produzido no Brasil e o quinto da frota nacional. Na mensagem lida no evento, Lula exaltou o reaparelhamento das Forças Armadas:

- A indústria naval brasileira encontra-se em notável processo de recuperação, dando prova de que tem todas as condições de fabricar as embarcações que o país necessita. Nossos estaleiros estão se capacitando e revertendo o declínio observado nas últimas décadas. O governo está apoiando esse processo.

Em um dos poucos momentos de descontração, Lula foi falar com operários envolvidos diretamente na construção da embarcação. Cumprimentou um a um e brincou:

- É tudo flamenguista.

Das mãos do soldador Sinésio Ferreira dos Santos, recebeu uma miniatura da âncora do submarino. Também acenou para outros trabalhadores que cercaram a área da cerimônia, na expectativa de ver o presidente. No momento do desembarque do submarino, depois de uma visita de cerca de 20 minutos, Lula e a primeira-dama usavam um boné da Marinha.

Um grupo de cerca de 600 mata-mosquitos protestaram do lado de fora das instalações da Marinha, enquanto ocorria a cerimônia. Após serem dispensados em 1999 e recontratados em 2003 por um período de dois anos com possibilidade de efetivação, eles temem uma possível dispensa, recomendada, segundo eles, em relatório do Ministério do Planejamento.

Hoje, a primeira-dama, Marisa Letícia, volta ao Rio para receber, ao lado da governadora, Rosinha Matheus, e das ministras do Meio Ambiete, Mariana Silva, e de Minas e Energia, Dilma Rousseff, uma homenagem pelo Dia Internacional da Mulher.