Título: Dirceu ganha força no Planalto
Autor: Sérgio Pardellas e Sérgio Prado
Fonte: Jornal do Brasil, 10/03/2005, País, p. A3

Coordenação Política seria extinta e funções incorporadas por uma subsecretaria, vinculada ao chefe da Casa Civil

BRASÍLIA - Às vésperas da reforma ministerial, o meio empresarial recebeu ontem o mais forte sinal de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva irá alterar o modelo de articulação política do Palácio do Planalto, promovendo uma reestruturação da Casa Civil, o que fortalece a posição de seu titular, o ministro José Dirceu. Tanto no Congresso quanto na Esplanada há expectativa que a mudança seja anunciada entre hoje e amanhã. De acordo com um peso-pesado do PIB, interlocutor freqüente do Planalto, o ministério da Coordenação Política seria extinto e suas funções incorporadas por uma subsecretaria, vinculada ao ministro da Casa Civil, José Dirceu. Um dos nomes cotados para assumir o novo cargo é o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP). A reestruturação da Casa Civil foi confirmada por um ministro próximo a Lula.

Nessa nova equação, sobraria para o atual ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, que poderá ser remanejado para um outro ministério ou liderança do governo na Câmara ¿ uma saída honrosa na avaliação de ministros ligados a Lula. Esta versão contraria as previsões feitas até agora de que o presidente manteria Aldo na sua atual posição. De acordo com vários representantes do setor privado, ao concentrar a articulação política na Casa Civil, o presidente atenderia uma demanda do setor, preocupado com a interlocução, não raro, dúbia do governo, ora exercida por Dirceu, ora por Aldo.

A mudança, se concretizada, pode ser a grande surpresa das alterações na Esplanada dos Ministérios, a ser anunciada provavelmente entre hoje e amanhã por Lula. Conforme antecipou ontem o JB, o presidente já tem em mente o novo arranjo do Ministério. O cenário mais provável da reforma coloca o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira (PMDB), na Integração Nacional, com Ciro Gomes sendo remanejado para o Ministério da Saúde; a senadora Roseana Sarney (PFL-MA) nas Comunicações; o senador Romero Jucá (PMDB-RR) na Previdência Social, no lugar de Amir Lando, que seria indicado pelo Senado para o Tribunal de Contas da União (TCU); e Pedro Henry (PP) ou Francisco Dornelles (PP) no Ministério do Trabalho. Restariam as definições para o Ministério do Planejamento, Cidades e Desenvolvimento Social.

Ontem à noite, Dirceu confirmou a interlocutores que o presidente Lula irá fazer seis remanejamentos na Esplanada.

¿ Ele (Lula) está sofrendo demais. Lula disse que não é fácil mexer em companheiros ¿ disse ontem Dirceu, querendo justificar a demora para o anúncio oficial do novo Ministério.

Enquanto o chefe do Executivo ainda não bate o martelo, os partidos aproveitam para intensificar as pressões por mais espaço na Esplanada. Ontem, foi mais um dia de reuniões com líderes dos partidos da bancada governista.

Pela manhã, a senadora Roseana Sarney (PFL-MA) recebeu em sua residência no Lago Sul a visita ilustre do ministro José Dirceu. Segundo ministros ligados a Lula, Dirceu teria sido incumbido de conversar com ela sobre dois ministérios: Comunicações ou Cidades. Roseana quer o ministério das Comunicações. O presidente também quer vê-la no cargo.

À tarde bateram ponto no Palácio do Planalto o presidente do PP, Pedro Corrêa (PE) e o líder, José Janene (PR). O presidente quer o PP no Ministério do Trabalho, apesar da resistência de setores do partido que insistem nas Comunicações. Ontem no ministério do Trabalho, funcionários esvaziavam as gavetas enquanto eram informados sobre a iminência da chegada de um novo ministro do PP. Lula quer o deputado Pedro Henry (PP-MT), conforme publicou ontem o JB. Também o agrada o nome do deputado Francisco Dornelles (PP-RJ). Nos últimos dias, o deputado fluminense telefonou até para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso contando da possível boa nova. Janene, por sua vez, quer na Esplanada o deputado Ciro Nogueira (PP-PI), segundo vice da Câmara. Mas Lula não digeriu a indicação.

No final da tarde, o presidente recebeu os ases do PMDB. Segundo o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), Lula disse que o espaço do PMDB na reforma seria conseqüência das costuras políticas para as eleições de 2006. À noite, Lula recebeu os petebistas Roberto Jefferson (RJ) e o ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia (MG).