Valor Econômico, n. 5230, 16/04/2021. Política, p. A7

 

PF confirma troca de delegado que quis investigar Salles
Isadora Peron 
André Guilherme Vieira
16/04/2021

 

 

 

A Polícia Federal (PF) confirmou ontem a troca do atual superintendente do órgão no Amazonas, Alexandre Saraiva, que se envolveu em embate com o governo ao solicitar que o ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, fosse investigado. Em notícia-crime enviada ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, Saraiva disse que Salles atrapalha a fiscalização ambiental e o acusou de “patrocinar interesses privados”. Em nota, a PF disse que Saraiva será substituído por Leandro Almada.

Ao Valor, Saraiva disse que não foi avisado sobre a troca, na quarta-feira, e que “quem disse isso está mentindo e fazendo papel de delinquente”. Segundo ele, normalmente o diretor-geral liga para comunicar a troca, que tem de ser publicada no “Diário Oficial”. “Agora, não fiz concurso para superintendente, fiz para delegado. Então aceito missão, sempre aceitei missões na polícia.”

Sobre uma suposta retaliação por tentar investigar Salles, Saraiva disse que não há como saber. “Primeiro, se isso [a exoneração do cargo] se concretizar, eu teria que ter o poder de entrar na mente de quem decidiu isso para saber a motivação. Isso eu não sei. O que eu posso dizer é que é uma coisa natural, acontece”, afirmou.

O texto da PF divulgado para a imprensa diz que a decisão sobre a troca foi tomada antes de Saraiva pedir a Fux para investigar Salles. O pedido veio à tona na noite de quarta-feira.

“Em especial, no tocante à alteração da chefia da Superintendência Regional do estado do Amazonas, cumpre esclarecer que o delegado de Polícia Federal Alexandre da Silva Saraiva, que permaneceu durante três anos e meio à frente da Superintendência, foi comunicado da substituição no decorrer da tarde de ontem (14/4)”, afirmou a PF.

Saraiva e Salles estão em rota de colisão desde que o ministro saiu em defesa de madeireiros, após a PF realizar uma apreensão recorde de madeira extraída ilegalmente.

Fontes da PF admitem que o confronto com um ministro do Estado “ajudou” a consolidar a decisão do novo diretor-geral.

A expectativa, no entanto, é que Saraiva continue no comando das investigações em curso no Amazonas para combater o desmatamento ilegal. Ele, no entanto, foi sondado para ocupar posto no exterior.

Além da superintendência do Amazonas, a PF também confirmou as mudanças em São Paulo (Rodrigo Piovesano Bartolomei), Santa Catarina (Luiz Carlos Korff), Bahia (Virgínia Palharini) e Roraima (José Roberto Peres).

No caso do novo chefe da superintendência de São Paulo, a notícia sobre a chegada do carioca Bartolomei foi uma surpresa. Ele substituirá Dennis Cali, que trabalhou na inteligência da PF.

O delegado é considerado próximo da chamada “ala bolsonarista” da PF, apesar do perfil operacional e experiente.

A ascensão de Bartolomei envolve episódio pitoresco. Em agosto de 2019 ele comandou uma incursão a uma favela no Rio, que contou com agentes federais e uma guarnição de policiais militares para recuperar o celular do ministro André Mendonça, da Advocacia-Geral da União (AGU). No dia 9 de agosto daquele ano, Mendonça esqueceu o aparelho em um carro de aplicativo de transporte e acionou a PF para recuperar o telefone.

A corporação anunciou ainda os novos nomes da cúpula, também escolhidos pelo novo diretor-geral, Paulo Maiurino.

O número dois da PF será o delegado Cairo Costa, que assumirá a Diretoria Executiva. Rodrigo Carneiro chefiará a Diretoria de Inteligência Policial. Luiz Flávio Zampronha conduzirá a Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado.