Valor Econômico, n. 5230, 16/04/2021. Política, p. A8

 

Renan deve ficar com relatoria de CPI e Omar Aziz com presidência
Renan Truffi
Andrea Jubé
16/04/2021

 

 

 

Senador costurou acordo com a oposição e venceu resistências da base governista, que trabalha por amazonense na presidência

Apesar das ofensivas do presidente Jair Bolsonaro para adiar as investigações, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da pandemia caminha para ser instalada nos próximos dias e com um adversário do Palácio do Planalto no cargo mais importante do colegiado. O senador Renan Calheiros (MDB-AL) costurou acordo com os integrantes e deve mesmo ser escolhido para a função de relator. Como forma de equilibrar o jogo, o governo tenta influenciar na definição do presidente da CPI, que pode ficar com o senador Omar Aziz (PSD-AM).

Nos últimos dias, o MDB consolidou negociações para que Renan seja ungido pelo “grupo dos sete”, como estão sendo chamados os sete senadores que são de oposição ou têm postura independente em relação ao governo federal na comissão. Eles são maioria diante da base aliada do Executivo, que tem apenas quatro aliados fiéis no colegiado. Com isso, o foco agora está na disputa pela presidência da comissão de inquérito.

Segundo maior partido do Senado, o PSD entrou no circuito e passou a buscar apoio dos líderes para emplacar Omar Aziz no controle da comissão. A legenda tem conversado, inclusive, com representantes do Planalto. Aos governistas, ele foi apresentado como um parlamentar “firme”, que poderia dar “equilíbrio” às apurações. Além disso, a escolha do senador do Amazonas não agradaria Calheiros.

O trabalho de articulação por Omar Aziz se intensificou também depois que o senador Otto Alencar (PSD-BA), o outro indicado da bancada, abriu mão da disputa. Ele não esconde a oposição que faz ao presidente da República, o que dificultaria um acordo entre o PSD e Bolsonaro. Apesar disso, nomes de governistas, como Marcos Rogério (DEM-RO) e Eduardo Girão (Podemos-CE), ainda tentam se viabilizar no bastidores, mas ambos correm por fora na disputa.

Ontem, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), também leu no plenário os requerimentos que formalizam a composição da CPI. O ato era necessário para que o colegiado pudesse ser instalado oficialmente. Agora, o início dos trabalhos depende apenas do agendamento da primeira sessão, quando serão escolhidos presidente e relator. Pacheco já disse, inclusive, que está avaliando a melhor data e “em breve” vai consultar os membros para fazer esse anúncio em consenso. Isso representa mais uma derrota para Bolsonaro e sua base aliada, que buscavam adiar as atividades.

A esperança do líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), é que a CPI comece a funcionar já na quinta-feira, dia 22, logo após o feriado de Tiradentes. Uma das primeiras metas dos partidos de esquerda deve ser a convocação dos três últimos ministros da Saúde: Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e Eduardo Pazuello. Todos trabalharam na gestão de Jair Bolsonaro e dois deles deixaram o cargo por desentendimentos com o presidente da República. Randolfe também admitiu que o caso do Amazonas, Estado que sofreu um colapso durante o mês de janeiro, quando diversas pessoas morreram sufocadas por falta de oxigênio nos hospitais, deverá receber atenção especial da comissão de inquérito.