Valor Econômico, n. 5231, 19/04/2021. Brasil, p. A6

 

Até maio, mais 1 bilhão de doses produzidas
Assis Moreira
19/04/2021

 

 

 

Projeção da consultoria Airfinity sobre aumento da velocidade de produção mundial de vacinas depende que laboratórios vençam dificuldades com insumos

 

O primeiro bilhão de vacinas anti-covid-19 disponível globalmente levou cerca de quatro meses para ser produzido. A marca foi atingida há poucos dias. Agora, o ritmo é outro e o próximo 1 bilhão de doses deve ser fabricado em apenas um mês. É essa a projeção da Airfinity, consultoria em saúde sediada em Londres. Alguns observadores lembram, no entanto, que a aceleração da produção depende da superação de problemas que tem atingido os laboratórios. O quadro de aumento da oferta alimenta expectativas do Brasil. O país é o campeão mundial por mortes de covid nas últimas semanas e sente a escassez de vacinas.

Pelas projeções, o laboratório sueco-britânico AstraZeneca continuará a ser o maior produtor, totalizando 486 milhões de doses nas próximas quatro semanas. A aliança americano-alemã Pfizer-BioNTech vem em segundo com 460 milhões e a chinesa Sinovac em terceiro com 436 milhões. A produção total poderá alcançar 2,1 bilhões no fim de maio. Os maiores países produtores continuarão a ser a China, com 735 milhões de doses até o próximo mês, os EUA com 436 milhões e a Índia com 427 milhões de doses.

A Johnson & Jonhson tem estimativa de dobrar a produção para 50,3 milhões de doses no fim de maio, mas sofre com atrasos em fábricas e suspensão temporária do uso de sua vacina nos EUA e na Europa. A Moderna confirmou “volatilidade na produção” e retardo em entregas de doses para o Canadá e Europa. A indústria farmacêutica considera, porém, que a meta de produção de 10 bilhões doses neste ano está no bom caminho.

No caso do Brasil, a Covax, mecanismo global para distribuição equitativa de doses, informou ao governo que há possibilidade de entregar 8 milhões de doses ao país até o fim de maio, voltando ao plano original que tinha sido suspenso. Um entrega deve ser de 4 milhões de doses dentro de três a cinco semanas. O restante está condicionado à performance de AstraZeneca, principal fornecedor de vacinas para a Covax. Esse laboratório está ampliando a produção, mas várias fábricas ainda necessitam passar pelo processo de autorização regulatória.

De seu lado, o Itamaraty prossegue com a nova “diplomacia da saúde’’. Na semana passada, em sessão no Parlamento Europeu na qual foi tratada a situação da covid no Brasil, o embaixador brasileiro junto à União Europeia, Marcos Galvão, pediu ajuda europeia por maior e mais rápida provisão de vacinas. Os europeus até agora não fizeram nada sobre isso.

Neste momento, a prioridade humanitária, sanitária e econômica “deve ser as vacinas, as vacinas e as vacinas”, afirmou Galvão. “Com o passar dos dias, entretanto, a comunidade internacional será confrontada com um espetáculo de desigualdade de uma nova escala e espécie, com implicações sanitárias e éticas, de vida e morte, sem precedentes. Isto se tornará ainda mais visível à medida que os países desenvolvidos forem capazes de atender às suas próprias necessidades imediatas”, acrescentou o embaixador.

A União Europeia já foca em sua proteção no médio prazo. “Em determinado momento, podemos precisar reforçar e prolongar a imunização’’, afirmou a presidente da Comissão Europeia, Úrsula von der Leyen, ao anunciar negociação com Pfizer-BioNTech para compra adicional de 1,8 bilhão de doses de vacinas de segunda geração, com entrega prevista para 2022 e 2023. Bruxelas escolheu vacina com tecnologia ‘RNA mensageiro’ por ser mais rápida e mais fácil de adaptar na luta contra novas variantes.

O novo contrato prevê produção de base na Europa com prioridade para a Europa, sem dependência de insumos estrangeiros, como os da China e da Índia.