Valor Econômico, n. 5231, 19/04/2021. Política, p. A8

 

Quebras de acordos deterioram relação entre Guedes e Lira
Marcelo Ribeiro
19/04/2021

 

 

 

Em seu primeiro trimestre à frente da presidência da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) já enfrenta dificuldades na relação com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Apesar dos esforços do parlamentar em manter uma boa relação com o chefe da equipe econômica, a dificuldade do auxiliar do presidente Jair Bolsonaro em cumprir acordos celebrados com o Poder Legislativo já provoca a irritação de lideranças importantes do Congresso Nacional.

Interlocutores do parlamentar do PP admitem que o bom relacionamento entre o líder do Centrão e o ministro pode azedar a depender do desfecho encontrado pelo Palácio do Planalto para o impasse em relação ao Orçamento de 2021. A resistência inicial de Guedes para reconhecer que errou na condução das negociações da peça orçamentária reacendeu a insatisfação entre deputados e senadores O prazo final para sanção presidencial esgota dia 22.

“Com os problemas nas negociações sobre o Orçamento, todos se ressentiram de não haver um Ministério do Planejamento dissociado do Ministério da Economia”, avaliou um parlamentar do Centrão. “A relação está ruim, mas pode ficar pior”, completou um deputado reconhecido por acompanhar a tramitação da peça orçamentária anualmente. $

Diante de um desfecho insatisfatório para os congressistas, a tendência é que Bolsonaro volte a estar sob pressão, nas próximas semanas, para desmembrar a pasta de Guedes. Prevalece a leitura que a sucessão de erros fez com que ele perdesse o status de superministro e que, mesmo que tenha suas prerrogativas esvaziadas, permanecerá no cargo, o que era impensável até pouco tempo atrás.

“O Guedes tem problema em tudo que é lugar. Tem problema na relação com o Parlamento, tem problema interno dentro do governo. O presidente da República parece que já não dá a autoridade que deu para ele em outros momentos. Eu acho que ele está ficando cada vez mais isolado, mas ele ainda é o muro de contenção à tendência de populismo fiscal do governo. Então, acaba que o mercado financeiro ainda dá lastro para ele permanecer”, aponta o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM).

Enquanto o ministro mantém a pressão para que o presidente vete o trecho que trata do aumento das emendas parlamentares, Lira está em campo para garantir que o interesse de deputados e senadores seja levado em conta e respeitado. Na semana passada, o presidente da Câmara deixou claro ao presidente que a agenda prioritária do governo no Poder Legislativo, incluindo reformas tributária e administrativa, corria risco em caso de um veto. O recado já havia sido passado em uma reunião com os ministros Luiz Eduardo Ramos, da Casa Civil, e Flávia Arruda, da Secretaria de Governo, mas não surtiu efeito, já que Bolsonaro não enterrou a disputa entre o Congresso e a equipe econômica sobre o Orçamento.

Para aliados de Lira, Guedes “não virou a chave” em relação ao comando da Câmara, já que o relacionamento entre ele e o ex-presidente da Casa Rodrigo Maia (DEM-RJ) sempre foi conturbado, marcado por idas e vindas.

Integrantes do Centrão destacam, porém, que o momento é outro. Lembram que o governo nunca esteve tão fragilizado como agora, com a pandemia em seu pior momento e uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) à porta para apurar a gestão do governo no combate à covid-19.

Além disso, destacam que Lira é reconhecido por ser “cumpridor de acordos”, mas também exige que seus interlocutores cumpram compromissos selados, “coisa que o Paulo Guedes não é muito de fazer”, aponta um interlocutor do deputado do PP.