Título: A ciência que dá samba
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 10/03/2005, País, p. A5

Se o Nobel por duas vezes esqueceu o físico César Lattes, a Mangueira não. Em 1947, a escola de samba escalou dois de seus maiores compositores, Carlos Cachaça e Cartola, para musicar o enredo Ciência e Arte.

Impressionados com o impacto da descoberta da partícula méson pi - que pôs o nome do brasileiro nas manchetes dos jornais de todo o mundo - os mangueirenses resolveram citá-lo nos versos do samba que, praxe à época, exaltava as qualidades do Brasil: ''Tu és meu Brasil em toda parte/ Quer na ciência ou na arte/ Portentoso e altaneiro/(...) Homens que escreveram sua história/ Conquistaram sua glória/ (...) Não querendo levá-los ao cume da altura/ Cientistas tu tens e tens cultura/E neste rude poema destes pobres vates/Há sábios como Pedro Américo e Cesar Lattes''.

Vencedor na quadra, a composição de Carlos Cachaça e Cartola ficou em segundo lugar na avenida, em tempos em que a Portela era imbatível - levou os campeonatos de 1941 a 1947.

Mas não foi esquecida. Tanto que, em 1997, Gilberto Gil, ao gravar o disco Quanta - para o qual César Lattes escreveu uma apresentação e fez uma ''correção'' das letras -, incluiu o samba-enredo da Estação Primeira no repertório. O CD, que tematizava

as maravilhas da física moderna, foi premiado com o Grammy na categoria World Music. Pois é: só faltou mesmo o Nobel.