Título: Auditores do INSS já sabiam de investigação
Autor: Marco Antônio Martins
Fonte: Jornal do Brasil, 10/03/2005, País, p. A6

Presos sob a suspeita de desviar R$ 3 bilhões da Previdência Social, 13 auditores do INSS sabiam que eram investigados desde 2002. De acordo com procuradores da República que integram a força-tarefa responsável por apurar crimes previdenciários, os servidores tiveram durante este período acesso a informações sigilosas. Mesmo assim, mantiveram o esquema de fraudes contra empresas sediadas no Rio.

A descoberta dos integrantes da força-tarefa aconteceu em dezembro. Na casa dos auditores do INSS Antônio Vinícius Monteiro e Francisco Cruz, foram encontradas cópias de documentos com a grafia ''sigiloso'', emitidos pelo corregedor-geral de Justiça, Paulo Gomes da Silva Filho. Na ocasião, a pedido do procurador da República Marcelo Freire, a documentação foi enviada a todos os cartórios do Rio pedindo que fosse feito um levantamento dos imóveis que estivessem em nome dos 13 auditores investigados. O pedido localizado na casa de Antônio Vinícius chegou a ser enviado por fax para o posto de Irajá, onde nove dos 13 auditores estão lotados.

- Eles tinham um documento sigiloso e o conseqüente conhecimento da investigação. No monitoramento telefônico, alguns desses auditores falam claramente que deviam fazer pressões em Brasília para interromper o trabalho da força-tarefa. Isso é muito grave. A investigação não inibiu a atuação do grupo talvez porque acreditassem na impunidade - afirma o procurador Fábio Aragão.

Ele acredita que o acesso dos auditores a informações privilegiadas possa ter levado o grupo a destruir provas. Segundo Aragão, muitos documentos poderiam ter sido encontrados nas operações de busca e apreensão nas residências dos auditores do INSS.

- Muita coisa foi destruída. Num primeiro momento, nem chegamos a descobrir as gravações feitas pelo Antônio Vinícius sobre uma concessionária - comentou, sobre fitas cassetes localizadas numa gaveta na casa de um dos auditores e que traz detalhes sobre o dia-a-dia de uma revendedora de carros.

Junto com o também procurador Vinícius Panetto, Aragão entrará em contato, na próxima semana, com procuradores americanos e integrantes de agências de inteligência dos Estados Unidos, como o FBI, a polícia federal americana. A intenção é trocar informações e facilitar a busca do dinheiro do INSS no exterior. Além dos Estados Unidos, os procuradores suspeitam de investimentos em paraísos fiscais localizados no Canal da Mancha. No passaporte do auditor Antônio Vinícius há vários carimbos de entradas em ilhas localizadas naquela região.

Os 11 auditores são suspeitos de causar um rombo na Previdência ao isentar 140 empresas do pagamento de impostos.