Título: Malária: 2 bilhões em risco
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 10/03/2005, Internacional, p. A7

Estudo aponta que 515 milhões foram afetados em 2002

PARIS - Mais de 2 bilhões de pessoas no mundo estão expostas à malária e aproximadamente 515 milhões sofreram crises da doença em 2002, quase o dobro da estimativa feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1998. Além disso, em áreas fora do continente africano, como é o caso do Brasil, os novos dados indicam que a ocorrência da doença foi três maior que a prevista pela organização. As informações fazem parte de um estudo que mapeou a doença e que será publicado hoje na revista científica britânica Nature.

No mundo, estima-se que atualmente entre 300 milhões e 660 milhões tenham tido uma crise de malária causada pelo Plasmodium Falciparum, parasita responsável pela forma mais comum e grave da doença.

Para 2004, um documento preliminar da OMS estimou em 402 milhões o número de casos de malária em 111 países, 311 milhões provocados pelo Plasmodium Falciparum: 70% na África subsaariana e 18% no Sudeste asiático.

Segundo Robert Snow, do Instituto de Pesquisas Médicas de Nairóbi, e os outros autores do estudo, para lutar de forma eficaz contra este mal e determinar as prioridades é preciso revisar a cartografia desta doença e, sobretudo, fora da África.

O grupo criou um modelo de computador para construir um mapa mundial detalhado, mostrando quantas pessoas devem sofrer os sintomas da enfermidade.

Para isto, eles primeiro dividiram o mundo em regiões nas quais a doença está presente, a partir de alertas emitidos aos viajantes. Foram excluídas áreas que estão acima de uma certa altitude, onde o parasita tem menos chances de sobreviver.

A equipe tornou o mapa ainda mais apurado ao adicionar estimativas de densidade populacional em cada área, as chances de se contrair uma infecção a partir de uma picada de mosquito e relatórios médicos sobre a predisposição de uma infecção provocar os sintomas da doença.

- Então, apertamos o botão e o número apareceu - disse.

O estudo também concluiu que em 2002, 25% dos casos da enfermidade foram registrados em regiões densamente povoadas do Sudeste asiático.

A África, com 365 milhões de casos (70% do total), continua sendo o continente mais afetado pela doença.

Fora do continente, o número de casos de malária atribuídos ao Plasmodium Falciparum foi estimado em 51 milhões em 1995.

- Nossa estimativa de 150 milhões de casos é muito superior - destacaram, colocando em dúvida a confiabilidade das estatísticas nacionais.

- O estudo trata apenas de estimativas, mas são provavelmente as mais exatas que temos - destacou Andrew Spielman, especialista em doenças infecciosas da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard. - A malária já era conhecida por afetar muitas pessoas, mas a situação parece ser mais terrível do que pensávamos.