Título: Parlamento reconduz premier
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Fonte: Jornal do Brasil, 10/03/2005, Internacoinal, p. A8
Político pró-Síria volta ao cargo depois de manifestações de apoio a Damasco em Beirute
BEIRUTE - O Parlamento libanês reconduziu o primeiro-ministro pró-Síria Omar Karami para o cargo, uma decisão que deve irritar a oposição anti-síria que o pressionou a renunciar ao mesmo posto.
Dos 128 deputados libaneses, 69 se manifestaram a favor da recondução de Karami durante negociações com o presidente Emile Lahoud, também aliado da Síria.
Lahoud agora deve encarregar Karami de formar um governo de união nacional, que vai funcionar até as eleições de maio. O anúncio oficial da recondução deve ser feito hoje.
Karami renunciou na semana passada, após grandes manifestações contra a Síria em Beirute, mas continuou interinamente no cargo.
Enquanto isso, a oposição defendeu um governo formado por pessoas que não disputem a eleição de maio, temendo que um gabinete pró-Síria possa manipular os resultados.
Dois deputados que representam mais de 40 membros da oposição se reuniram com Lahoud e, em vez de indicar um premier, apresentaram uma lista de reivindicações: a demissão dos chefes de segurança apoiados pela Síria, a completa retirada síria e uma investigação internacional sobre a morte do ex-premier Rafik Hariri.
O principal nome da oposição, Walid Jumblatt, reiterou seu apelo por diálogo com o Hisbolá, em visita a Bruxelas, e agradeceu a milícia por usar a bandeira libanesa na manifestação.
- Eles demonstraram uma posição, são parte dos libaneses. O Hisbolá é parte do Líbano - afirmou.
Formar um governo de união nacional será uma tarefa difícil. O premier terá de atrair vários políticos da oposição, em vez de simplesmente reformar o gabinete pró-Síria que funcionava antes da renúncia.
Um milhão e meio de pessoas tomaram o centro de Beirute na terça-feira para uma manifestação a favor de Damasco, convocada pelo Hisbolá. O comício superou, em número, os protestos anteriores contra a presença militar síria no país.
Foi a primeira grande manifestação de apoio popular à Síria em Beirute desde 14 de fevereiro, quando um atentado matou Hariri. A oposição libanesa culpou Damasco pelo crime.
As manifestações a fovor e contra a presença síria ilustram a profunda divisão que há hoje no Líbano a respeito do papel de Damasco e do futuro do Hisbolá, a última milícia armada do país, que atua como partido político, mas é considerada terrorista pelos EUA.
Ontem, o presidente dos Estados Unidos, George Bush, disse que Washington está discutindo com aliados o que fazer para pressionar a Síria a cumprir a retirada total antes das eleições de maio no Líbano, o que deveria incluir a saída também dos serviços sírios de inteligência. Para Bush, o deslocamento das tropas para o vale do Bekaa não é suficiente.
O secretário-geral da ONU, Koffi Annan, ressaltou, ontem também, que o Conselho de Segurança considera fundamental a ''retirada total e completa'' das forças sírias do território libanês.
As tropas sírias continuam a se deslocar para o Leste do Líbano, na primeira das duas etapas da desocupação. Alguns soldados já voltaram à Síria e militares libaneses os substituíram nas posições.