Título: Juros afetam investimento
Autor: Samantha Lima e Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 10/03/2005, Economia & Negócios, p. A17

Setor de bens de capital ajuda a derrubar produção industrial em janeiro, quando taxa Selic passou de 18% ao ano

Contrariando o movimento geral da indústria e mesmo sua própria trajetória em 2004, a indústria de bens de consumo semiduráveis e não-duráveis expandiu-se 3,7%, ante 3,4% em dezembro. Entre outubro e janeiro, o aumento acumulado é de 7,4%.

- Essa informação reflete o aquecimento da demanda interna. O resultado da indústria como um todo foi melhor do que se esperava - comentou o economista Sílvio Sales, coordenador da pesquisa no IBGE.

Segundo o economista David Kupfer, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o segmento de bens não-duráveis, ao contrário dos demais, não sofre efeito do juro.

A taxa Selic não influencia a produção de bens não-duráveis mas interferiram nas vendas da indústria alimentícia. Em janeiro, enquanto a produção do setor elevou-se 0,5%, as vendas recuaram 2,4%, segundo a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação.

- As fábricas mantiveram a produção em alta, mas as vendas não acompanharam. Aproveitando uma queda sazonal no consumo, algumas empresas podem ter deixado o estoque cair um pouco para direcionar recursos ao mercado financeiro - aponta Amílcar Lacerda, gerente do departamento de Economia da Abia. - Mas mantivemos a produção porque em março, com consumo em alta, a recomposição do estoque será inevitável.

Representante do setor de bens semiduráveis, a indústria de vestuário veio embalada por otimismo e pela mudança de coleção em janeiro, segundo representantes do setor.

- O ano passado nos deu confiança para dedicarmos quatro meses em planejamento para iniciarmos a produção da nova coleção em janeiro. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, estamos expandindo a produção de peças entre 8% e 10% - comenta Isac Saade, proprietário da Corpo & Alma.

A retração de 0,5% na indústria entre dezembro e janeiro não afeta o elevado patamar de produção da indústria, acredita Sales, do IBGE, com base na média móvel trimestral. O trimestre encerrado em janeiro mostra estabilidade, com crescimento de 0,1%. Para o economista Guilherme Maia, da Tendências, o resultado justificaria uma nova alta de juros em março.

- O Comitê de Política Monetária esperava uma queda maior. Acreditamos em elevação de 0,5 ponto, porque eles vão manter a cautela.

- O Copom já conseguiu o que queria e deveria parar o remédio amargo agora - dispara Almeida, do Iedi.