Título: O 'Demônio de Garanhuns' sumiu
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 13/03/2005, País, p. A5

No futebol, como na reforma ministerial, Lula atua recuado, dá passes discretos e evita bolas divididas e jogadas duras

Até na hora de jogar futebol com ex-integrantes da seleção e ministros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva agiu como se estivesse conduzindo a reforma ministerial: jogou recuado, com passes discretos e poupando-se de divididas duras. Na filmagem de um documentário sobre a vida do ex-jogador Sócrates, ontem, na Granja do Torto, Lula, ministros e parlamentares saíram a campo para tentar mostrar que, quando o assunto é bola, também entendem do negócio.

Durante a semana, Lula dissera que as pessoas veriam o ''Demônio de Garanhuns'' em campo. O que aconteceu, porém, foi diferente. No primeiro tempo, Lula atuou só dois minutos. No segundo, jogou os dez minutos finais. Mais de uma vez, ao pegar a bola, fez sinal com as mãos pedindo calma aos companheiros.

Aparentando estar acima do peso, o presidente correu pouco, mas foi responsável por iniciar duas jogadas que renderam gols. Os irmãos Sócrates e Raí dividiram-se no comando dos times.

times. Ninguém soube definir com exatidão o placar. Falou-se em 4 a 3, 5 a 4 e 5 a 3. O placar da reforma ministerial também permaneceu misterioso. Hoje, Lula prossegue as conversas com políticos do PT para saber quem fica e quem sai do ministério. A reunião terá a presença do chefe da Casa Civil, José Dirceu, e do presidente do PT, José Genoino.

O governador do Acre, Jorge Viana, não veio para jogar. Ele foi à Granja conversar com Lula e descartou a saída da ministra do Meio Ambiente, a colega Marina Silva. Mas não negou uma possível mudança de posição do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo.

- Não consigo ouvir de ninguém qualquer queixa do ministro Aldo. Ele está definitivamente dentro do governo. Pode até mudar de posição no time, mas é uma pessoa muito importante para nosso projeto - afirmou.

Foi também do governador do Acre o mais curioso comentário sobre o ''desarranjo'' dos partidos. Ele deixou claro que o presidente Lula não vai nomear apenas ministros, mas tentar aumentar a base partidária do governo.

- Com todo o respeito ao PMDB, a gente está sofrendo uma espécie de peemedebização dos partidos. Para não falar só da direita ou do centro, o fenômeno está indo do PT, do PC do B, até os partidos mais tradicionais, convencionais - disse Viana.

Segundo Viana, o governo inaugura este ano a ''fase da colheita de bons resultados''.

O senador Aloizio Mercadante, antes mesmo do jogo e da escalação dos novos ministros, deixou claro que o governo está de olho em 2006, quando o PT tenta reeleger Lula. Segundo ele, até lá, vai estar ''tudo nos eixos''. A escolha do vice-presidente da República, José Alencar, diz Mercadante, para o Ministério da Defesa ''foi uma bela solução construída pelo presidente''. Sobre a nova investida de Marta Suplicy rumo ao governo de São Paulo, o líder do governo disse acreditar na construção de um ''pacto'' dentro do partido. Mercadante saiu de campo contundido.

Sócrates, craque da seleção de 82, antes de pisar o gramado, criticou duramente o governo, especialmente a pasta do Esporte. Para o ex-jogador, o governo de Lula tem ''aspectos muito bons'', mas em outras situações atua de forma lenta.

- Falta uma política de esporte. No Brasil só se discute financiamento. Financiamento de nada, pois não há projeto - criticou.

O ex-jogador não quis dizer o que faria se ocupasse a cadeira de ministro do Esporte. ''Se isso ocorrer, darei as respostas'', desconversou .

O ministro da Fazenda, Antônio Palocci - único a jogar contra o time do PT e o mais forte da Esplanada dos Ministérios - não teve fôlego para ficar mais do que cinco minutos em campo.

O deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF) brincou com o excesso de peso do amigo Palocci.

- O ministro da Fazenda jogou na retranca. Ele levaria jeito se emagrecesse uns 20 quilos - comentou.

O ministro José Dirceu não jogou. Chegou ao fim do jogo e foi embora quase sem ser notado, em um carro da marca Gol.

O ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini - que não sabe se continua no cargo - entrou com todo o gás em campo, fez flexões e chegou a derrubar Raí, irmão de Sócrates.