Título: No Peru, debate divide especialistas
Autor: Marcelo Ambrosio
Fonte: Jornal do Brasil, 13/03/2005, Internacional, p. A12

O governo peruano pretende divulgar esta semana um relatório não tão detalhado quando o do Equador, mas que segue na mesma direção: a de que a contaminação pelo excesso de Glifosato chegou ao país. O objetivo é tentar fazer com que Bogotá aceite estabelecer por acordo uma faixa livre de fumigação tanto com Quito quanto com Lima. O problema é convencer o regime de Alvaro Uribe a deixar parte de seu território fora do alcance do Plano Patriota, o bilionário programa sustentado pelos EUA de erradicação das plantações de coca.

- Fizemos uma petição estabelecendo uma zona tampão de 10 km de largura, encampada pelo congresso. Os parlamentares também querem que a Colômbia pague indenização pelos danos e faça projetos de desenvolvimento na região. As comissões de Direitos Humanos e Saúde constataram o impacto sobre a saúde e os cultivos, mas ainda assim, os aviões continuaram lançando o pesticida sem controle, aviso ou proteção até dezembro de 2004 - descreve o médico Adolfo Maldonado.

Mas em Lima os ânimos se dividem. Na inspeção na região central de Tocache a comissão oficial recolheu amostras de solo e água que, segundo organismos internacionais, tinham traços de pesticida. Além disso, agentes de saúde e médicos locais afirmaram que 38 pessoas haviam passado mal depois que um helicóptero lançou a nuvem sobre a região. Para outros especialistas, ainda é pouco para definir o glifosato como nocivo.

- Não creio que esteja acontecendo. Para ser tóxico, é preciso que a pessoa tenha ingerido quase meio litro do produto, que no solo é rapidamente absorvido. Mais do que isso, se a aplicação for feita de forma errada, como se afirma, não fará efeito sobre as plantações - sustenta, da capital peruana, o pesquisador e especialista Salomon Helfgott, ligado à Faculdade de Ciências Forestais da Universidade Nacional Agrária La Molina, em Lima.

Helfgott desconhece o estudo equatoriano, mas crê que o debate está mirando as consequências certas a partir de uma causa equivocada. E que não inclui os problemas sociais gerados pelo narcotráfico, que força a destruição da floresta para a ampliação dos cultivos.

- O risco maior, hoje, é menos pelo que o glifosato pode representar e mais pelo que os produtores de cocaína fazem para obter a pasta básica. A quantidade de ácido sulfúrico e de outros poluentes que é jogada no Putumayo é enorme e essas águas correm diretamente para a Amazônia brasileira - alerta.