Título: Andaraí reabre emergência
Autor: Camilla Antunes e Marco Antonio Barbosa
Fonte: Jornal do Brasil, 13/03/2005, Rio, p. A17

Sob intervenção federal, hospital da Zona Norte põe em funcionamento unidade que estava parada há dois meses

A reabertura da emergência do Hospital do Andaraí, fechada há dois meses, foi a segunda medida importante tomada pelo Comitê de Gestão Hospitalar, responsável pelo controle da gestão federal em seis unidades de saúde no Rio. No segundo dia de intervenção, o comitê visitou os hospitais de Ipanema, Andaraí e Cardoso Fontes, que também teve a emergência reaberta na sexta-feira à noite. Além destes, os hospitais da Lagoa, Souza Aguiar e Miguel Couto também estão sob comando federal. O Hospital do Andaraí está agora sob controle de uma comissão de profissionais do Hospital Geral de Bonsucesso, que emprestou pessoal, equipamento e suprimentos em caráter emergencial à unidade.

- Trouxemos monitores cardíacos, medidores de pressão e materiais diversos. Estamos prontos para recolocar em funcionamento, já na segunda-feira, duas das quatro salas de cirurgia que estavam paradas - afirmou Jorge Ronaldo Moll, diretor de Infraestrutura do Hospital de Bonsucesso, que estava ajudando a coordenar a ocupação do Andaraí, ontem.

A principal mudança no Andaraí foi a abertura de uma sala de triagem, totalmente reformada, que servirá para avaliar o estado de saúde de quem chega à emergência do hospital.

Já no Hospital Municipal Souza Aguiar, na mesma tarde de sábado, a intervenção federal não se fazia sentir. Por volta das 15h, cerca de 20 pessoas aguardavam no pronto-socorro. Alguns - como o morador de rua Adenilton da Silva, que reclamava de dores nas pernas e esperava o atendimento deitado no chão - já estavam ali há mais de duas horas.

- Demorou mais de uma hora para fazerem minha ficha - reclamou Gabriel Milley, 60 anos, que estava no Souza Aguiar para retirar os pontos de um curativo na mão.

- Estamos, como sempre, priorizando os casos de urgência. O comitê prometeu entregar insumos e material de uso diário, além de revitalizar o parque tecnológico do hospital. Temos todo um planejamento preparado para modernizar o hospital, mas sem espaço físico nem funcionários, não dá para fazer nada - afirmou Leonardo Sardu, chefe da emergência do Souza Aguiar.

No Hospital Miguel Couto, na Gávea, o atendimento foi considerado mais eficiente pelos pacientes que passaram por lá. A dona-de-casa Eliane Alves chegou ao hospital pela manhã com pressão alta e considerou o atendimento melhor do que o costume.

- A fila estava andando mais rápido e fui bem atendida lá dentro. Também não estava faltando médicos e remédios - disse a dona-de-casa.

Segundo o secretário nacional de Atenção à Saúde, Jorge Solla, os contratos com as empresas prestadoras de serviço não estão sendo cumpridos pela prefeitura. Auditores e secretários do Ministério da Saúde irão investigar a falta de pagamento destes contratos mesmo depois do repasse do Fundo Nacional de Saúde.

- A prefeitura acabou de receber o repasse referente ao mês de fevereiro. Só de repasses feitos mensalmente pela gestão plena há mais de R$ 30 milhões. Não é possível que a verba seja insuficiente - questionou Sollas, que visitou o Hospital de Ipanema, onde cinco das onze salas do centro cirúrgico estão interditadas.

Ronaldo Cezar Coelho, secretário municipal de Saúde, emitiu nota oficial criticando a intervenção federal nos hospitais. No documento, o secretário se diz ''surpreso'' e ''indignado'' com o rompimento unilateral das negociações entre o município e o Ministério da Saúde.

Segundo o secretário, a única questão que faltava ser acordada nas negociações era a transformação do Hospital do Andaraí em um centro de referência no tratamento de doentes com câncer. Mas segundo Sérgio Côrtes, a hipótese está descartada.

- O Andaraí não pode se tornar um hospital seletivo. Sua emergência e pronto-socorro são vitais para a comunidade. E não adianta tentar politizar esta intervenção, que foi uma decisão tomada diante de uma verdadeira calamidade pública. As pessoas estão morrendo - afirmou o gestor federal.

O secretário estadual de Saúde, Gilson Cantarino, informou que vai convidar o secretário Ronaldo para uma reunião em que pretende negociar a divisão das atividades. De acordo com a assessoria de imprensa da secretaria, ele avaliou positivamente a intervenção do governo federal.