Título: ''Arruda precisa de um partido''
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 14/03/2005, Brasília, p. D3

No último dia 2, o deputado federal Alberto Fraga (PTB) ajudou a escancarar o impasse vivido pelo PFL do Distrito Federal ao lançar como candidato à sucessão no Palácio do Buriti o colega de bancada, deputado federal José Roberto Arruda (PFL). O anúncio foi feito diante de centenas de convidados que foram a uma churrascaria comemorar a filiação de Gim Argello ao PTB, e deixou constrangido o principal rival de Arruda na disputa dentro do PFL, o senador e presidente da sigla Paulo Octávio. Em seu gabinete na Praça dos Três Poderes ¿ em cujas paredes ostenta paredes dezenas de medalhas e títulos de honra dos tempos em que era da Polícia Militar ¿ o tenente-coronel reformado disse ao JB que fez o anúncio pois entrelaçou seus projetos políticos aos de Arruda, e sente que seu aliado está sufocado no PFL. Fraga revelou ainda que pode deixar a sigla que o acolheu em 2003, quando saiu, magoado, do PMDB de Joaquim Roriz, se assim puder ajudar na campanha de Arruda. A única condição é ocupar um cargo de relevância na Executiva do futuro partido: ¿prefiro ser cabeça de sardinha do que rabo de baleia¿. Sobre o governador, aliás, o deputado mostra ressentimento, e diz que agora vai apoiar um candidato que, "se eleito, não se esconda¿. Fraga critica a má distribuição dos policiais no DF. Para ele, os contingentes nas satélites deveriam ser maiores do que os disponíveis hoje.

- Por que lançar a candidatura do deputado José Roberto Arruda, do PFL, ao Buriti no dia da festa de filiação do distrital Gim Argello ao PTB?

- Desde que começou o processo de sucessão, percebia que Arruda, apesar de ser o candidato de maior densidade política hoje no DF, é o único que não tem partido para trabalhar sua candidatura. Quando fui para o PTB, procurei de imediato buscá-lo. Ele ainda sonha com a hipótese de ser candidato pelo PFL. Eu e todo o grupo dele temos dito que não adianta achar que conseguirá isso porque o presidente do partido, Paulo Octávio, tem maioria na executiva e jamais abrirá mão de sua candidatura, pois é senador e está no início do mandato.

- Calcula-se que tanto Paulo Octávio quanto Arruda têm o mesmo percentual de apoio na Executiva, e que a posição do deputado Osório Adriano poderia fazer a diferença. Ainda assim o senhor acredita que não há espaço para Arruda?

- Isso não é verdade. Na semana passada, participei de uma reunião do grupo pensante de apoio a Arruda no PFL e todos foram unânimes em dizer que tentar maioria é muito arriscado. Osório já declarou publicamente que vai apoiar Paulo Octávio, Eles devem ter algum acordo empresarial. Não acredito que Osório volte atrás. A única forma de Arruda ser candidato pelo PFL é se eu fosse para lá tendo direito a voto, a uma parcela da Executiva. Se eu for para o PFL, sob essas condições, se tivermos a maioria, PO deverá sair do partido. É uma situação que a ser trabalhada.

- O convite para se filiar ao PFL já existe?

- Recebi convite de quase todos os partidos, com exceção do PT, evidentemente. Meu nome é leve. Mas quase todos os meus amigos do Congresso são do PFL. Também tenho saudades do PMDB, mas do jeito que o partido está é impossível voltar. Está um balaio de gato, grupos em cima de grupos, uma coisa maluca. O PMDB do DF é muito cheio para mim, como o próprio PFL. Não vou para nenhum desses partidos para ser mais um. Disse ao governador e ele achou graça: prefiro ser cabeça de sardinha do que rabo de baleia. No PTB sou presidente, tenho espaço na tevê. E no PMDB? E no PFL?

- Então, ir para o PFL, dentro dessa exposição, não atrapalharia seus próprios projetos?

- Não vejo como o PFL abrigar Fraga, Arruda, PO e Osório Adriano. Também não vejo a possibilidade de ver PO e Arruda no mesmo partido. Até porque o grupo de Arruda não aceita mais que ele não saia candidato. Agora, temos que lutar pelo apoio de Roriz à candidatura de Arruda. Nós não podemos é brigar. Porque se houver duas candidaturas separadas, lá no final do segundo turno o Paulo Octávio tem que estar conosco. Por isso as coisas não podem ser levadas a ferro e fogo. Seqüelas ficarão, evidentemente, mas não pode haver ódio, senão vai complicar.

- Então está certa a candidatura do Arruda?

- Eu não tenho dúvida. O Arruda tem um acordo que, se não sair pelo PFL, sai pelo PTB. Parece-me que não vai haver verticalização em 2006. Esse era o fantasma que me amedrontava. Porque eu não tenho nenhuma condição política de subir num palanque do PT. O PTB hoje faz parte da base de apoio ao governo, assim como o PMDB. O próprio governador Roriz também tem de estar preocupado com isso. Se não cair a verticalização, PMDB e PTB ficarão em posições complicadas. Ainda mais no DF.

- Como é a relação do PTB com Joaquim Roriz?

- O PTB hoje não tem nenhum emprego - não é nem cargo - no GDF. Emprego é uma ocupação de R$ 500, R$ 600, R$ 1.500. Cargo é você ter um lugar onde possa gerar mais empregos, como uma secretaria. O PTB sempre esteve em mãos de verdadeiros aliados de Roriz. Eu defendo o governador em tudo aquilo que mereça ser defendido. Agora, eu não tenho o mesmo tratamento que ele dá a seus parceiros. Todo mundo sabe disso. Não sou do grupo do Roriz. Sou o único deputado federal que não tem esses cargos e empregos que são distribuídos do governo para os deputados. Digo sempre que sou filho ilegítimo do governador, pois nunca vi tanta dificuldade para eu ajeitar as coisas.

- Há pouco tempo Roriz fez um discurso público elogiando o senhor. Depois disso, alguma coisa mudou?

- Minha relação com ele é sempre amistosa. Não sou daqueles que o procura todo dia para pedir coisas. Só procuro o governador quando preciso resolver algum assunto importante. E fico às vezes muito chateado, já que procuro tão pouco, e nas poucas vezes não consigo chegar até ele. Esse filtro me incomoda. Se o governador tem apenas cinco deputados federais, não é possível que ele não se sensibilize que tem que abrir a agenda para eles. Graças a Deus tenho uma boa amizade no Congresso e às vezes fico envergonhado quando me pedem uma coisa tão simples de resolver com o governador, mas não consigo. Por que estou dedicado a apoiar o Arruda? Porque eu preciso de um governador que me ouça, um governador amigo, que não se esconda de mim. Aí é onde deveria entrar o sentimento de gratidão de Roriz para comigo, coisa que ele nunca demonstrou ter.

- É uma reclamação geral da base governista das duas Casas, então...

- O episódio Câmara Distrital se deu exatamente por falta de diálogo. Constantemente ouço deputados reclamando. Eu até disse a ele: ''Por que o senhor, em vez de ignorar as pessoas não atende e, olhando no olho, diz não?''. É muito melhor assim. Porque o parlamentar é verdadeiramente quem vai buscar votos para o governador. Quando eu saí do PMDB, se eu tivesse falado com Roriz, não teria saído, porque ele teria me acalmado. Minha briga com o PMDB foi com a esfera federal, Renan Calheiros, Eunício. Tentei falar com ele, não consegui e saí. Ele ficou chateado. Eu falei: ''Mas o senhor não me atendeu''. Aí ele disse: ''Eu não podia''. Não podia, por que? O governador tem meia dúzia de pessoas que o protegem tanto que acabam filtrando demais as coisas.

- Se Roriz não apoiar a candidatura de Arruda, pode inviabilizá-la. Como vocês vão lidar com isso?

- O governador não pode sinalizar ainda quem é o seu candidato. Acho que o momento para o Roriz é de aguardar e ver quem são os melhores, porque nós temos um grupo político. Temo um grupo político de quatro candidatos com perspectivas de eleição - Arruda, Paulo Octávio, Filippelli e Abadia. O que não podemos é dividir esses quatro. E eles têm que entender que quem vai comandar o processo de sucessão é Roriz. Não adianta ficar se digladiando. Parece que o Paulo Octávio afirmou que é candidato com ou sem o apoio de Roriz. Se ele deu essa declaração, então escolheu seu caminho. Já o Arruda tem se mostrado mais cauteloso, tem buscado incessantemente o apoio do Roriz.

- Se o Arruda não for o ungido, ele tira o time de campo?

- Isso só quem pode responder é ele. Mas quanto a mim, terei que repensar a minha vida política. Veja bem: meu primeiro candidato é Arruda, o segundo é Filippelli, o terceiro, Paulo Octávio, e o quarto é Maria de Lourdes Abadia. Não tenho absolutamente nada contra os outros. Simpatizo muito com Paulo Octávio, sou amigo dele. Como gosto demais também do Tadeu Filippelli. É uma pessoa que paga um preço muito alto pela timidez. Tenho menos intimidade com a Abadia, mas se ela vier forte e nós tivermos condições de ganhar a eleição, se o Arruda não tiver o compromisso de sair, darei o meu apoio. Só quero dizer, a quem quer que seja, que não vou trabalhar para alguém que depois não me dê apoio e sustentação.

- Na sua avaliação, como ficou Roriz com o governo federal depois da promessa de que os deputados de seu raio de influência votariam no candidato oficial do PT à presidência da Câmara?

- A promessa foi cumprida. Tanto que o próprio Tadeu Filippelli mostrou o voto para o Greenhalgh. O que era demais era o Fraga votar no Greenhalgh. Não tenho nada contra ele, mas tudo aquilo que eu luto e defendo ele é contra. Como votar nessa pessoa? Mas o acordo, na sua grande maioria, foi cumprido. Quem não cumpriu o acordo foi o governo federal que ficou de editar uma Medida Provisória para conceder o aumento dos policiais e não editou até agora. Então, quem rompeu foram eles. Dizem que o Roriz traiu o governo Lula na questão da convenção do PMDB e que o PT deu o troco para o Roriz na eleição da Câmara Distrital. Agora, as coisas se acomodaram quando a Maninha, a adversária mais crítica do Roriz, procurou o governador, juntamente com um grupo de deputados do PT para pedir o apoio de Roriz. E o Roriz disse pra mim: ''Fraga, sei que você não gosta do PT, mas vote em mim, então''. Eu disse: ''governador, vou fazer o seu jogo político, mas vou trair''.

- Quando o senhor define se fica no PTB?

- A idéia é que o Arruda venha para o PTB. Sinto que o Palácio do Planalto não quer, ele tem preferência pela candidatura do Paulo Octávio. E eu acredito que na hora que o Arruda disser ''sou candidato'', o Roberto Jefferson pode bancar o compromisso da candidatura dele ao GDF. O que precisa? Na verdade, o Arruda quer permanecer no PFL por questão mesmo de gostar do partido. O fato é que em virtude da acomodação da sucessão, hoje o quadro não está definido. Ele pode ficar no PFL se a gente tiver o controle. Pode vir para o PTB, pode ir para o PL. Qual é o partido que não quer oferecer a sua legenda para ter Arruda como candidato a governador? Todos querem. Eu acho que o único que eu sei que tem um problema é o PSDB, mas que a hipótese não está ainda descartada.

- E o senhor o acompanha na legenda em que ele for?

- Sim. Todos sabem que onde o Arruda for, o Fraga vai. E vice-versa. Evidentemente, apoiado por Roriz.

- Gim filiou-se ao PTB a seu convite?

- Sim. Ele é muito amigo do Roberto Jefferson. Foi uma conversa a três. Depois tivemos uma conversa a dois, onde eu disse: ''Você tem a missão de fazer o partido crescer, porque você é um grande articulador, que a gente chama de avião''. E é verdade, é um cara muito esperto nessa coisa. Agora, não aceito é bola nas costas. Quando o Gim veio para o PTB surgiu o comentário de que ele estaria vindo para o partido para tomá-lo de mim. Se me tomar o partido, e eu não descarto a hipótese de uma intervenção. Aí o Roberto Jefferson descumpre um acordo comigo. Porque quando eu fui vim para o PTB o acordo era que eu tivesse o comando do partido. Se isso não for cumprido, no dia seguinte eu estou fora do PTB. Não chamei o Gim para ser o presidente. Chamei para conduzir o partido. Olha que ainda dei muito poder. Eu disse: ''Você é quem vai conduzir, só quero ser comunicado antes''.

- Quem mais deve entrar no PTB?

- Não é bom adiantar. Mas tem uns dois deputados que eu tenho certeza que virão. Nós vamos formar uma boa legenda para deputado federal. Queremos conversar com o Jofran Frejat.

- Existe algum mal-estar do senhor, presidente no DF de um partido da base de apoio de Lula, com o Palácio do Planalto?

- Sim. A política conduzida pelo governo Lula é uma política totalmente desvirtuada do que foi pregado nas praças públicas. Aí está o meu descontentamento, em virtude do estelionato que foi aplicado no povo. Tenho bons amigos no PT, mas não tenho simpatia pela ideologia do PT, porque é uma ideologia do ''faça o que eu digo mas não faça o que eu faço''. Meu constrangimento maior ocorre quando eu tenho que votar contra o meu partido, que eu sei que meu partido é base de sustentação do governo Lula.

- Como o senhor avalia a segurança no DF? Os índices de seqüestros relâmpagos, por exemplo, estão assustando a população...

- Aa medida que o governo deveria adotar é a que eu propus, a tipificação do seqüestro relâmpago e até hoje o projeto não andou um passo. Isso é incompetência do governo federal.