Título: Novas barreiras à exportação de carnes
Autor: Guilherme S. Minozzo
Fonte: Jornal do Brasil, 14/03/2005, Economia & Negócios, p. A18

Os exportadores de carne brasileiros caminham para um impasse em relação ao destino de seus produtos. De um lado, as previsões para 2005 são as mais otimistas possíveis, uma vez que o país fechou o ano passado como líder mundial na exportação de carne bovina e de frango. Por outro lado, uma questão sanitária pode barrar a entrada destes produtos num dos principais mercados compradores: o continente europeu. A partir de 1º de janeiro de 2006 a União Européia (UE) oficializará o banimento do uso de antibióticos como promotores de crescimento animal. Em outras palavras, significa que não aceitará nenhum tipo de produto de origem animal, vindo de qualquer parte do mundo, que tenha recebido antibióticos na sua dieta alimentar.

A pressão dos consumidores europeus foi fundamental para esta imposição da União Européia.

Casos como o da vaca louca nos Estados Unidos, a gripe do frango no sudeste asiático e a febre aftosa na América Latina fizeram o público desconfiar da agricultura moderna. Estas doenças poderiam ser transmitidas para as pessoas? Os alimentos consumidos pelos animais têm efeito no organismo humano? Na dúvida, ninguém quer correr o risco de consumir produtos que possam causar problemas à própria saúde. E a causa encontra adeptos do outro lado do Atlântico. De acordo com uma pesquisa feita com mil consumidores norte-americanos, patrocinada pelo Whole Foods Market ¿ o maior supermercado de alimentos naturais e orgânicos dos Estados Unidos ¿ a preocupação com o uso dos antibióticos nos animais e os riscos dessa utilização na saúde humana aparecem logo após outras preocupações básicas, como preço e sabor dos alimentos.

Ainda não há pesquisas conclusivas sobre o efeito dos resíduos químicos dos antibióticos (presentes em carnes, ovos e leite) nos seres humanos. Um dos maiores receios é que os antibióticos estariam perdendo sua efetividade quando utilizados nos seres humanos devido ao aumento de seu uso nas rações animais.

Pesquisas à parte, uma das principais redes de fast-food do mundo, o McDonald's, recentemente deixou de comprar carne bovina contendo antibióticos promotores de crescimento, passou a recusar batatas geneticamente modificadas e, na Grã-Bretanha, começou a utilizar leite orgânico em seus produtos.

Portanto, a expansão e consolidação do mercado brasileiro de carnes dependem da conscientização dos profissionais envolvidos na cadeia produtiva, pois não se trata de uma mudança do dia para a noite. Atualmente, os antibióticos usados na dieta alimentar dos animais podem ser substituídos por alternativas naturais, como minerais orgânicos, enzimas e leveduras vivas de cepas selecionadas. Segundo pesquisas, estes aditivos naturais, misturados à ração, não deixam resíduos químicos nos produtos, melhoram o desempenho produtivo e o perfil sanitário dos animais e ainda podem proteger o organismo das pessoas contra determinadas doenças, entre elas o câncer.

Trocar o antibiótico químico pelo promotor natural de crescimento é a principal atitude e, talvez, a mais simples. Isto porque a questão também exige conhecimento técnico, treinamento de pessoal, adaptação no manejo e uma boa dose de vontade para mudar hábitos antigos.

Se o banimento dos antibióticos na União Européia entrasse em vigor hoje, menos da metade das empresas que atuam neste mercado estaria realmente preparada para atender as exigências. Talvez por falta de informações, talvez por acreditar que o prazo possa ser prorrogado. Mas desta vez o hábito brasileiro de ¿deixar tudo pra última hora¿ deveria dar lugar à flexibilidade e à visão prática de mercado.

Substituir ou não antibióticos promotores de crescimento pode ser a diferença entre exportar ou não os produtos de origem animal. Pode ser também o fiel da balança na hora de distinguir o mero produtor do verdadeiro empreendedor.