Título: MST reage à Lei de Segurança
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 11/03/2005, País, p. A5

Deputado que integra direção do movimento diz ser repugnante eventual uso da LSN contra sem-terra

BRASÍLIA - O deputado estadual Valmir Assunção (PT-BA), que integra a direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), informou ontem, por intermédio de uma nota, que pretende enviar uma carta ao Ministério da Justiça para pedir esclarecimentos sobre a suposta intenção da Polícia Federal de enquadrar os sem-terra na Lei de Segurança Nacional (LSN). Na nota distribuída ontem, o deputado taxou de ''repugnante'' a informação sobre o eventual uso da LSN para punir os sem-terra. O parlamentar disse que a notícia é um ''factóide insosso''.

Segundo o parlamentar, o governo de Lula ''jamais descerá ao lodo autoritário da LSN para enfrentar os movimentos sociais'', embora isso seja ''desejo de alguns''.

Uma autoridade da PF afirmou na quarta-feira que a LSN seria um recurso para enquadrar ações que envolvam destruição dos bens públicos, depredação e fechamento de vias por tempo indeterminado. A PF, no entanto, esclareceu que este recurso não foi adotado em Alagoas, onde os sem-terra incendiaram uma caminhonete anteontem.

Ontem , em Maceió , o MST formou um batalhão com 400 ''seguranças'' - armados com porretes, barras de ferro, foices e facões - para atuar no acampamento urbano erguido pelo movimento há 11 dias em uma praça no centro da cidade. O grupo foi dividido em 18 equipes que se revezam dia e noite na vigilância do local. Uma barricada erguida com pedras e pneus na rua em frente à sede estadual do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) - também invadida pelos sem-terra - impede a passagem de veículos.

A barreira é controlada por cerca de dez homens portando facões na cintura e pedaços de pau ou foices nas mãos. O local é o ponto mais vigiado, por ser a principal passagem dos lavradores do acampamento à sede do Incra. O prédio está localizado em frente à praça, cuja área equivale a de um campo de futebol.

Segundo a Polícia Militar, há cerca de 2 .mil pessoas acampadas. O MST estima em 3 mil o número de invasores. O clima no local era tenso ontem, um dia após os sem-terra depredarem e incendiarem uma camionete utilizada pelo Incra no Estado.

O movimento quer a demissão do superintendente local do Incra, Gino César Menezes. Alega que ele incita a discórdia entre as entidades que lutam pela terra.