Título: O marketing do câmbio
Autor: Klaus Kleber
Fonte: Jornal do Brasil, 11/03/2005, País, p. A2

O pacotinho cambial que o Conselho Monetário Nacional (CMN) baixou na semana passada está longe de significar que o real está caminhando para a conversibilidade como disseram. A prova dos nove nesse caso é a possibilidade de o real ser cotado e trocado em viagens a países desenvolvidos por moedas fortes, como acontece com o dólar, o euro, a libra esterlina, o iene e o franco suíço. Por enquanto, o real só vale para pagar o táxi na ida e na volta do aeroporto. Alguns países vizinhos também aceitam trocar reais por moedas locais, mas é melhor levar dólares. A ação do BC, contudo, tem vantagens. Reduz a burocracia para remessa e recebimento de recursos do exterior e regula a CC-5, válvula de escape pela qual bilhões de dólares bateram asas do país nos períodos de crises internacionais. Agora, quem quiser mandar dinheiro para fora, para repatriar, aplicar, manter estudantes, fazer donativos, seja lá o que for, pode fazê-lo via bancária, com fechamento de câmbio, justificando a razão da remessa. E não existe mais a limitação de US$ 5 milhões para investimento no exterior, empecilho para empresas brasileiras que buscam se internacionalizar.

Os exportadores têm mais prazo para trazer para o país as divisas que auferiram, o que concorre para conter a oferta de dólares no mercado.

A dúvida é se, com a unificação dos mercados de câmbio livre e flutuante, acaba a diferença de cotação entre o dólar comercial e o dólar turismo. Há bancos que dizem que não. A moeda para o turismo vai custar mais caro em vista dos custos do câmbio manual, ou seja, da troca física de reais por moedas estrangeiras. Não seria o caso de se cobrar uma tarifa fixa nessas operações? A dúvida deve ser resolvida pelas cartas-circulares que o Banco Central vai soltar antes de as medidas entrarem em vigor no dia 14.

Uma coisa é certa: o marketing externo não esteve alheio à liberalização do câmbio. O governo quis mostrar que o Brasil prefere ter relações financeiras com o exterior sem constrangimento, sem medo de o país ser encostado à parede. É inevitável o paralelo dessa opção com a moratória heróica que a Argentina foi obrigada adotar para reduzir uma boa parte de sua dívida externa.