O Globo, n. 32045, 02/05/2021, País, p. 6

 

CPI reacende disputa entre Renan e Lira, forjada em Alagoas

Bernardo Mello

02/05/2021

 

 

Senador retoma protagonismo com a comissão e reforça posição contrária à de Bolsonaro, aliado do presidente da Câmara

A confirmação de Renan Calheiros (MDB-AL) como relator da CPI da Covid, instituída no Senado na semana passada, posicionou o Congresso Nacional como uma nova etapa de uma disputa, forjada na política de Alagoas, que opõe senador ao deputado Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara com apoio do governo Jair Bolsonaro. Embora os dois lados busquem denominadores comuns desde 2018 - a agenda mais recente para uni-los é a possível indicação do alagoano Humberto Martins a uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) -, interlocutores dos parlamentares relatam que o clima de “desconfiança mútua ”Piorou com a retomada do protagonismo de Renan, visto como uma ameaça à trajetória de ascensão de Lira. A eleição de 2022, de acordo com atores políticos relatados ao mundo, é o horizonte que dará o tom para a queda de braço entre Renan e Lira. Em privado, dois interlocutores não descartam a possibilidade de composição entre os dois na disputa pela sucessão do governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), que fez gestos no passado recente para adversários do pai, entre eles Lira. Três outras lideranças partidárias, porém, veem a divisão cristalizada, graças ao cenário nacional, que tem uma possível candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aliado de Renan, contra o Bolsonaro, de quem Lira tenta se distanciar sem romper com o governo federal. que fez gestos no passado recente para adversários do pai, incluindo Lira. Três outras lideranças partidárias, no entanto, veem a divisão cristalizada, graças ao cenário nacional, que tem uma possível candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aliado de Renan, contra o Bolsonaro, de quem Lira tenta se distanciar sem romper com o governo federal. que fez gestos no passado recente para oponentes do pai, incluindo Lira. Três outras lideranças partidárias, no entanto, veem a divisão cristalizada, graças ao cenário nacional, que tem uma possível candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aliado de Renan, contra o Bolsonaro, de quem Lira tenta se distanciar sem romper com o governo federal.

EUA UMA NOVA PEÇA NO JOGO

O Volt ade Lula ao cenário eleitoral fortalece o palanque local de Calheiros, avaliação feita até mesmo por adversários. Embora Renan não concorra em 2022 - seu mandato como senador vai até 2026 -, vitórias de aliados no estado e uma possível eleição do PT levariam o emedebista a escalões mais altos, como a tentativa de retorno à presidência do Senado , vontade dormente desde a derrota ante Davi Alcolumbre (DEM-AP) em 2019. Segundo aliados, que dizem não ver esse “desejo” em Renan por enquanto, uma alternativa seria endossar a candidatura de um correligionário de o MDB. Lira, por sua vez, quer disputar um novo mandato de deputado no próximo ano, para depois buscar a reeleição na residência da Câmara. Esse último plano é muito difícil para Lira em caso de vitórias de adversários dele e de boola sonaro - uma “mudança de eixo de poder”, nas palavras de uma pessoa próxima a Renan. Após movimentos do planalto de uma aproximação discreta com Renan serem implodidos pela base bolsonarista, que tentou barrá-lo no relatório do TPI da Covid via decisão judicial, o senador fez um discurso cheio de críticas e indiretas ao governo federal, na terça-feira , a ser oficializado como proprietário do Post. Após a introdução da CPI, Lira anunciou um plano para acelerar a reforma tributária na Câmara, em uma homenagem ao mercado e ao governo. Segundo um político alagoano que já atuou em Brasília e no estado, Lira e Renan “são como jacaré e cobra d'água”, expressão usada para designar adversários que atuam nos bastidores e evitam um conflito conflagrado. Renan e Benedito de Lira (PP), pai do atual prefeito, foram eleitos juntos para o Senado em 2010, com o apoio do então presidente Lula. Em 2014, a disputa do governo de Alagoas que colocou Renan Filho contra ”Biu“, como é conhecido no estado, foi descrita como “tensa” e “guerreira”. Quatro anos depois, quando Renan Filho foi reeleito com ampla vantagem , Biu fez campanha de oposição a pai e filho e não conseguiu renovar seu mandato no Senado. Desgastado com o avanço da lavagem a jato, Renan foi reeleito graças aos esforços de seu filho, segundo lideranças locais. ficou 250 mil votos atrás de Rodrigo Cunha (PSDB), que conquistou a primeira cadeira no Senado em 2018. Renan foi reeleito graças ao esforço de seu filho, segundo lideranças locais. Ele ficou 250 mil votos atrás de Rodrigo Cunha (PSDB), que conquistou a primeira cadeira no Senado em 2018. Renan foi reeleito graças ao esforço de seu filho, segundo lideranças locais. Ele ficou 250 mil votos atrás de Rodrigo Cunha (PSDB), que conquistou a primeira cadeira no Senado em 2018.

NEM UM NEM O OUTRO

No ano passado, na eleição de Maceió, Renan Filho aliou-se ao então prefeito Rui Palmeira (sem partido), sob críticas de seu pai, para lançar a candidatura do ex-procurador Alfredo Gaspar Neto (MDB) na capital. Derrotado no primeiro turno, o candidato apoiado por Lira, Davi Davino (PP), pediu votos ao oposicionista João Henrique Caldas (PSB), aliado de Cunha, que foi eleito impondo um revés ao governador.

—A capital, que reúne um terço da população, não escolheu nem O aliado de Lira, nem o candidato de Renan em 2020. Não creio que esta CPI seja algo central para definir os rumos de 2022; São muitos outros fatores - avalia o vice-prefeito Ronaldo Lessa (PDT). Antes da eleição municipal, o grupo Calheiros tentou costurar uma aliança, sem sucesso, com o candidato de Lira. A iniciativa foi comandada por Renan Filho, que ainda se encontrou com Davino. No início deste ano, enquanto costurava sua candidatura a prefeito, Lira ofereceu um pacto de “não agressão” a Renan, até acenando em apoio à sua eventual candidatura

filho ao Senado em 2022. O senador, porém, optou por fazer campanha aberta por Baleia Rossi (MDB-SP). Apesar das diferenças entre eles, Lira e Renan veem com bons olhos a possível escolha do atual presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Humberto Martins, para a vaga que abrirá em julho no STF. O nome de Martins, membro da Igreja Adventista, ganhou força com a possível nomeação evangélica ao tribunal prometida por Bolsonaro aos pastores, em meio à resistência aos nomes do procurador-geral da União, André Mendonça, e do procurador-geral da a República, Augusto Aras. Apoiado por Renan quando chegou ao STJ em 2006, Martins recentemente abordou

De Lira, que se livrou de ter o dedo do pé manda a candidatura cassa dosem 2018 pela lei da folha limpa graças a um liminar que depende de análise no STJ. O presidente da Câmara foi condenado na Justiça de Alagoas por improbabilidade administrativa e danos à Fazenda, por suposta irregularidade no uso de recursos da Assembleia Estadual. Lira também responde a uma ação no STF por suposto recebimento de propina na Empresa Brasileira de Transporte Urbano (CBTU) - o que ele nega.

EM EVIDÊNCIA

Segundo um aliado de Renan, o senador mantém “amizade” com Martins, mas tende a evitar acenos públicos por se posicionar hoje como adversário

do planalto. Alvo de oito investigações em diferentes instâncias - outras 17 foram ajuizadas nos últimos anos -, Renan é réu no STF, desde 2019, acusado de corrupção passiva na Transpetro - e também nega as acusações. - O TPI acaba colocando Renan em evidência, mas a visibilidade também pode ser ruim - afirma o senador Rodrigo Cunha, listado como candidato ao governo de Alagoas. - Ele vai precisar explicar como pode se considerar suspeito “parcial”, o que eu venho argumentando não ser possível. A investigação pode chegar ao governador (De Alagoas), que é seu filho. O TPI precisa de rigor e imparcialidade, e o público estará assistindo.