Título: Gorbachev assumia há 20 anos
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Fonte: Jornal do Brasil, 11/03/2005, Internacional, p. A9

Em 11 de março de 1985, subia ao poder o homem que mudaria a história e tudo que se sabia sobre as relações entre Estados

MOSCOU - O historiador russo Andrey Dantsev afirmou certa vez que o número 11 poderia ser visto como duas baquetas de um tambor que anunciaria uma nova era. Dantsev não se referiu a outro 11 senão o 11 de março de 1985, quando, há 20 anos, Mikhail Gorbachev assumiu o poder na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, tornado-se secretário geral do poderoso Partido Comunista Soviético.

Gorbachev foi nomeado depois da morte de Konstantir Chernenko, no dia anterior. Em menos de 24 horas, o Politburo - órgão central do Partido - se reuniu e o ministro das Relações Exteriores Andrey Gromyko propôs o nome de Gorbachev para secretário-geral, apoiado pelos 17 membros do conselho. No espaço de cinco anos, Gorbachev saiu do posto de o membro mais jovem para o cargo máximo do Politburo.

No Ocidente, poucos esperavam o que se veria pela frente. Gorbachev, que foi eleito presidente em 1988 e ganhou poderes extraordinários em 1989, lançou os programas que se tornaram palavras fáceis da época: ''glasnost'' (abertura) e ''perestroika'' (restruturação).

Em 1989, já era escolhido a ''personalidade da década'' pela revista americana Time. No mesmo ano, outros candidatos que não do Partido Comunista podiam participar das eleições para o órgão supremo soviético.

Sob sua gestão, Moscou retira as tropas do Afeganistão e assina acordos com os americanos pelo fim das armas químicas e pela redução dos arsenais nucleares, uma bandeira que até hoje o ex-líder soviético carrega.

Em 1990, outras organizações já poderiam atuar na política soviética, que deixava de ser exclusividade do Partido Comunista.

Com Gorbachev no poder, a URSS não interveio na segunda onda de ''revoluções'' do Leste Europeu. Os governos comunistas na Polônia, Hungria e Tchecoslováquia ruiram. A Alemanha Oriental se juntou à República Federal, capitalista e democrática.

Em 1990, Gorbachev recebeu o Prêmio Nobel da Paz. No natal de 1991, a URSS foi dissolvida e, em discurso à nação, Mikhail Gorbachev renunciou.

Até hoje historiadores e especialistas em Relações Internacionais debatem o que impulsionou as transformações que fizeram o mundo respirar aliviado: a Guerra Fria não era mais tão ameaçadora quanto fora, em especial durante a Crise dos Mísseis, de outubro de 1962.

Muitos dizem que a corrida armamentista imposta por Ronald Reagan foi demais para a ineficiente economia comunista. Outros apontam para a sedução da integração e da participação nos organismos e instituições internacionais, incluindo o mercado. Alguns dizem que tudo se explica na personalidade de Gorbachev.

Um fato é indiscutível. Depois de Gorbachev, ficou claro que um conflito controlado de dois Estados competitivos pode terminar com a derrota de um deles e sem uma guerra, ao menos na era nuclear.