O Globo, n. 32047, 04/05/2021, País, p. 4

 

Lula e Freixo debatem criação de frente ampla para eleição no Rio

Bruno Góes

04/05/2021

 

 

Em passagem por Brasília, ex-presidente recebe deputado do PSOL, pré-candidato ao governo que avalia filiação ao PT

Com o objetivo de costurar acordos políticos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou ontem em Brasília e, logo na chegada, debateu com o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) o cenário para as eleições no Rio. Após o encontro, em um hotel da capital, o parlamentar se colocou como candidato ao governo do estado e afirmou que a discussão é sobre uma frente ampla para “derrotar Jair Bolsonaro”. Freixo, porém, ainda avalia a possibilidade de trocar de partido para enfrentar as eleições em 2022 — uma das hipóteses é justamente o PT.

— Conversamos sobre uma aliança ampla, tanto no Brasil como no Rio. Temos que garantir a união dos partidos que naturalmente estariam juntos (de esquerda), e ver quem mais poderia nos apoiar. Falei que meu nome está colocado, tenho conversado com amplos setores e muitos partidos que estão dispostos. A tendência do PT é apoiar essa aliança —disse Freixo.

A ideia de Lula, segundo o deputado, é aglutinar, em um primeiro momento, forças de esquerda, como PT, PDT, PSB, PCdoB e PSOL. Hoje, Lula receberá o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ). Há a chance de o parlamentar do PSB ser candidato ao Senado, caso a frente seja concretizada. Molon pode ainda concorrer à reeleição em 2022 à Câmara dos Deputados.

A colunista Bela Megale, do GLOBO, também informou ontem que um encontro entre Lula e o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) está sendo negociado. Segundo a colunista, Maia sinalizou a interlocutores que “teria com todo prazer” uma conversa com o petista. Hoje, o deputado e o Bolsonaro são oponentes declarados. Em março, Maia pontuou suas diferenças com Lula, mas o elogiou nas redes sociais e disse que era preciso reconhecer a diferença entre o petista e Bolsonaro.

No mês passado, o diretório estadual do PSOL no Rio se opôs à formação de uma aliança com nomes do centro, como Maia e o prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM). Freixo, porém, tem mantido diálogo com os dois políticos.

AUMENTO DO AUXÍLIO

Após a reunião com Lula, o deputado do PSOL disse que abordou a questão das milícias no Rio e a vinculação de Bolsonaro com exmilitares que passaram a atuar com grupos criminosos. Além disso, tratou do posicionamento da oposição ao governo federal.

— Tivemos uma conversa sobre a questão nacional também, a necessidade da vacina e de um auxílio emergencial maior. Lula e nós estamos convencidos de que o governo poderia dar outro valor. Temos 400 mil mortos e a população passando dificuldades.

Segundo a colunista Malu Gaspar, do GLOBO, o ex-presidente vai defender na passagem por Brasília que a principal bandeira da oposição seja o auxílio emergencial de R$ 600, no lugar dos R$ 250 pagos atualmente.

Ainda ontem, Lula deveria se encontrar com diplomatas da embaixada da Alemanha para conversar sobre vacinas. Mais cedo, a colunista Bela Megale informou que houve o cancelamento de uma agenda com o embaixador da Rússia, Alexey Labetskiy, em meio a embates entre o fabricante da Sputnik V e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O cancelamento ocorreu pelo temor de acusações de o ex-presidente estar interferindo em uma questão de política externa, além da pressão de interlocutores do governo Bolsonaro sobre a embaixada russa.

A agenda do petista não foi divulgada, e a direção do PT tem mantido em sigilo a maior parte dos compromissos, mas devem ocorrer encontros com o ex-presidente José Sarney (MDB), parlamentares e com representantes das embaixadas.

Previsto inicialmente, o encontro com o senador Renan Calheiros (MDBAL), relator da CPI da Covid, não deve acontecer. Por parte do senador, a reunião poderia passar a impressão de uma articulação para usar a Comissão Parlamentar de Inquérito para atacar Bolsonaro, provável adversário de Lula em 2022.

Lula chegou a Brasília em um jatinho Learjet, contratado junto a uma empresa de táxi aéreo. Segundo a assessoria do ex-presidente, o translado foi bancado pelo PT. Cotação feita pelo GLOBO com a mesma empresa indica que o deslocamento, só de ida, custaria R$ 43 mil.