O Estado de São Paulo, n. 46833, 07/01/2022. Economia, p. B2

A disparada dos preços do petróleo
Celso Ming
07/01/2022



As cotações do petróleo voltaram a galopar no mercado internacional. Apenas nestes quatro dias úteis do ano, os preços do tipo Brent subiram 5,4%. Em 30 dias, avançaram 12,4% (veja o gráfico).

Os analistas apressaram-se a buscar explicações imediatas para essa disparada, como a das crises no Cazaquistão e na Líbia. Mas, se não essas, poderiam ser outras, a começar pela falta de disposição do cartel da Opep de aumentar a oferta mundial.

O principal fator a considerar é que, independentemente de eventuais detonadores, os preços já estão fortemente instáveis, com tendência para alta. Como o ambiente geral no mercado internacional é de aumento das contaminações pela covid-19, seria de esperar efeito contrário. Ou seja, com a volta de políticas restritivas e de distanciamento social, a atividade econômica tende a se enfraquecer e, com ela, seria enfraquecida também a demanda por energia. No entanto, parece prevalecer o temor de que o fluxo de produção e comercialização volte a se complicar e, com isso, os países consumidores estejam tratando de reforçar seus estoques de petróleo – o que aumenta a demanda imediata. Reafirma essa impressão a suspensão e adiamento de voos e cursos de navegação porque as tripulações de aviões e de navios estão infectadas pelo coronavírus. É perspectiva de menos mercadorias e menos insumos chegando ao seu destino final.

A esta altura não há condições de antever com segurança o comportamento dos preços. É incerteza que reforça a alta.

O impacto sobre a economia do Brasil enfrenta outras fontes de pressão. A mais importante recai sobre a Petrobras. Nesta quinta-feira, a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) avisou que a falta de reajustes dos preços internos de combustíveis inviabiliza as importações.

A "defasagem" nos preços pode não ser de 7% para o diesel e de 8% para a gasolina, como calcula a Abicom, mas é inegável que, pelos critérios da paridade internacional de preços em reais, com base nas cotações externas e na evolução do câmbio, há atrasos nas correções.

A Petrobras está sob pressões em torniquete. Do ponto de vista técnico será preciso reajustar os preços para cima, o que também seria inflação na veia. Mas as pressões políticas para que a Petrobras absorva prejuízos tendem a aumentar neste ano eleitoral.