O Estado de São Paulo, n. 46833, 07/01/2022. Metrópole, p. A13

Brasil tem 1ª morte por ômicron, que já responde por 92,6% dos registros
Italo Lo Re
07/01/2022



A primeira vítima da variante, segundo a prefeitura de Aparecida de Goiânia, foi um homem de 68 anos, portador de doença pulmonar obstrutiva crônica e hipertensão arterial

Vítima, de Goiás, tinha 68 anos e comorbidades. Ômicron respondeu por 92,6% dos registros de covid no final de dezembro.

A prefeitura de Aparecida de Goiânia, cidade da região metropolitana da capital de Goiás, relatou ontem a primeira morte pela variante Ômicron no Brasil. O óbito, confirmado pelo Ministério da Saúde, ocorre em mais um momento de aumento de casos da doença. Uma análise do Instituto Todos pela Saúde (ITpS) de 2.463 amostras coletadas entre o dia 26 de dezembro e o dia 1.° de janeiro constatou SARSCoV-2 em 337 pessoas – e em 312 (92,6%) houve indicação da infecção pela variante.

Identificada pela primeira vez na África do Sul, a nova cepa do coronavírus é apontada como a principal responsável pelo aumento de casos de covid-19 em todo o mundo. No Brasil, o governo federal tem 265 casos confirmados (121 em São Paulo) e 520 em investigação (308 no Rio).

A primeira vítima da variante, segundo a prefeitura de Aparecida de Goiânia, foi um homem de 68 anos, que já se encontrava internado no Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia e era morador de uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI). De acordo com o secretário de Estado de Saúde de Goiás, Ismael Alexandrino, apesar de ter sido imunizado com três doses da vacina contra a covid19, o homem era portador de duas comorbidades: doença pulmonar obstrutiva crônica (fibrose pulmonar) e hipertensão arterial. "Seu pulmão já era bem comprometido. O tecido pulmonar, por exemplo, não fazia mais as trocas gasosas de forma eficiente", explicou.

A infecção pelo coronavírus por pessoas que já completaram esquema vacinal não demonstra ineficácia da vacina. Especialistas apontam que o principal benefício dos imunizantes é evitar que a covid-19 evolua para quadros graves, mas reforçam que mesmo quem já foi vacinado pode ser infectado e transmitir a doença, sobretudo quando há altos índices de contaminação.

Nos grupos mais vulneráveis, como idosos e imunodeprimidos, também há risco – ainda que pequeno – de que a infecção evolua para quadros graves ou óbito. Nesse contexto, a aceleração da vacinação é tida como uma estratégia coletiva, uma vez que pode frear a contaminação e, por consequência, impedir o aumento de mortes pela covid-19.

Segundo o secretário municipal, Alessandro Magalhães, todas as medidas de prevenção e combate ao coronavírus passaram a ser reforçadas. "Vamos intensificar nossa testagem em massa, monitorar o crescimento de casos e reforçar com a população as medidas de prevenção, uma vez que nos últimos dias dez dias vimos o índice de positividade aumentar de 5% para 11%."

A identificação do primeiro óbito por Ômicron se deu pelo programa municipal de sequenciamento genômico de Aparecida de Goiânia, que tem feito a análise de amostras positivas de RT-PCR coletadas no município para mapear a informação genética e identificar as variantes do SARSCoV-2 em circulação. Até o momento, 2,3 mil sequenciamentos já foram realizados na cidade, que já confirmou 55 casos de Ômicron. A prevalência da variante chegou a 93,5% dos diagnósticos positivos. Número próximo do obtido no levantamento, divulgado nesta quinta-feira, pelo ITpS em parceria com os laboratórios privados Dasa e DB Molecular.

APAGÃO. Diretor-presidente do ITpS e professor da Universidade de São Paulo (USP), o médico Jorge Kalil contou ao Estadão que a iniciativa surgiu em resposta ao apagão de dados do Ministério da Saúde, que há cerca de um mês dificulta a leitura do cenário pandêmico no Brasil. Segundo ele, o instituto, que visa a ampliar o sequenciamento genômico no País, firmou parceria com os laboratórios para, por meio de um reagente, identificar logo após a testagem se a variante coletada é a Ômicron.

"Se for pensar no valor epidemiológico (da amostra), é relativamente restrito, mas nós não temos dados no Brasil. Então, nós queremos ampliar a colaboração entre laboratórios públicos e privados que têm informação, já que nós estamos em um apagão de dados", disse Kalil. Dados reunidos pelo ITpS apontam que, no período de um mês, a positividade para SARS-CoV-2 das amostras analisadas subiu de 5% para 13,7%, o que seria um reflexo do avanço da Ômicron no País.

De 26 de dezembro a 1° de janeiro, os testes RT-PCR Especial, que são os que usam o reagente específico, apontaram a Ômicron em 80 municípios de oito Estados brasileiros: Bahia, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins. Essa variante também foi identificada no Distrito Federal.

Conforme Kalil, o objetivo é fazer o monitoramento semanalmente e, se possível, expandir a iniciativa para mais laboratórios, o que permitiria fazer análises mais completas do avanço da Ômicron. Um ponto positivo, ressalta, é que os testes abarcam quaisquer pessoas que procuraram os laboratórios participantes, e não apenas aqueles que, por exemplo, voltaram de viagens internacionais.

Estudo com laboratórios ITpS aponta registros da Ômicron em 80 municípios de 8 Estados brasileiros.