Título: Rede estadual de saúde também passa por crise
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 11/03/2005, Rio, p. A14
Servidores alertam que mudança de gestão pode agravar situação
Prestes a assumir a gestão dos recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) - R$ 780 milhões destinados a 28 hospitais e postos de atendimento que eram gerenciados pela prefeitura -, o estado também sofre com a crise nos hospitais. Funcionários do Instituto de Assistência dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro (Iaserj) denunciam a falta de medicamentos, material e equipamentos. Os servidores também alertam que a situação dos hospitais públicos poderá se agravar com a transferência de gestão. - O estado não tem estrutura para assumir qualquer outro hospital. Já vivemos sem condições de trabalho - diz a presidente da Associação dos Funcionários do Iaserj (Afiaserj), Mariléa Ormond.
De acordo com servidores da unidade, desde dezembro a cooperativa de limpeza não recebe pagamento e há 20 dias paralisou as atividades. Segundo Mariléa, a falta de limpeza permitiu o surgimento de baratas, mosquitos e pulgas.
- Só há um faxineiro por andar, que recolhe o lixo mas não varre. Os próprios parentes limpam o local onde ficam os doentes - relata Elizabeth Acompora, diretora da Afiaserj.
Dos cinco elevadores, apenas um está em funcionamento, prejudicando o transporte de pacientes, alimentação, lixo e roupas. As cirurgias também foram reduzidas. Há um ano, a média mensal era de 200 operações; hoje não passa de 32. Mês passado o hospital tinha 146 pacientes internados, quando a lotação é de 100 leitos.
- A escada central está cheia de fezes de pombos e de gatos - conta Elizabeth.
Segundo a diretora, falta água potável e há atraso no fornecimento da alimentação dos pacientes. Como a cooperativa está sem receber, muitas vezes os pratos dos pacientes só chegam por volta das 3h.
- Às vezes a comida azeda. Os pacientes comem biscoito e bebem leite no lugar da refeição - relata Elizabeth.
A lista de deficiências no Iaserj é extensa: faltam medicamentos básicos na farmácia, telefonia interna, além de aparelhos de endoscopia e nebulizadores. Vários equipamentos estão sem manutenção. No hospital, é comum ver gatos e pombos. Segundo os médicos, gatos chegam a entrar nas salas dos pacientes. Os funcionários da unidade estão há uma década sem receber aumento.
Na manhã de ontem, servidores e pacientes fizeram um protesto contra a má condição do Iaserj, em frente à unidade.
- Desde dezembro, quando fizemos uma vistoria, a situação se agravou. Vamos cobrar atitudes do Ministério Público Federal, do governo do estado e da Vigilância Sanitária - informa Valcir Souza, coordenador de fiscalização do Conselho Regional de Enfermagem.
Apesar da crise na rede estadual, o presidente do Conselho Distrital de Saúde da Zona Oeste, Adelson Alípio, acredita que a gestão da secretaria estadual será mais eficiente que a do município.
- A burocracia é o grande problema dos hospitais municipais. Enquanto a Secretaria Municipal de Saúde concentra as compras, no estado os diretores dos hospitais têm autonomia para compras emergenciais - observa Alípio.
O presidente do Sindicato dos Médicos do Rio (SinMed), Jorge Darze, lembra que, apesar de receber a gestão plena, o estado não poderá desviar os recursos do SUS:
- A verba é carimbada pelo SUS e não pode ser usada para outra finalidade.