Título: Caminho livre para a Telecom Italia
Autor: Rafael Rosas e Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 11/03/2005, Economia & Negócios, p. A19

Destituição de fundo que administrava a Brasil Telecom tira Opportunity da disputa com europeus por controle de telefônica

A destituição do Opportunity da gestão do fundo CVC/Opportunity Equity Partners, decidida anteontem pelo Citigroup, conforme antecipou o jornalista Ricardo Boechat no JB, abre caminho para a formação de um forte bloco de telecomunicação no país capitaneado pela Telecom Italia. Analistas do setor são unânimes em afirmar que os italianos são a melhor aposta para assumir o controle da Brasil Telecom (BrT), cujo controle, até então, estava nas mãos do banco do empresário Daniel Dantas, gestor deste e de outros fundos com papéis da empresa.

Assumir o controle da Brasil Telecom significa uma importante base para a Telecom Italia no país. Terceira maior companhia de telefonia fixa do Brasil, a BrT supera os 10,5 milhões de linhas instaladas nas regiões Sul, Centro-Oeste e Norte, além das 500 mil linhas da recém-criada BrT GSM. No país, a Telecom Italia já possui a Telecom Italia Mobile (TIM), que disputa com a Claro o posto de segunda maior empresa de telefonia celular do país.

- Os próximos dias serão importantes para confirmarmos ou não as projeções. Caso o Citi convide a Telecom Italia para voltar ao Conselho de Administração da Brasil Telecom, podemos começar a acreditar que os italianos assumirão o controle da empresa a partir de setembro - diz Roger Oey, analista do Banif Investment Banking.

Os italianos deixaram o bloco controlador da BrT em 2002, como condição para lançar a TIM. Quando tentaram retornar para a empresa, foram barrados por Dantas, que se encontra em Londres para o julgamento, na semana que vem, do pedido arbitral feito pela Telecom Italia para voltar ao bloco controlador da BrT.

- A decisão do Citi esvazia a arbitragem em Londres, já que Dantas vai perder o controle da empresa - acrescenta Oey.

Firmado em setembro de 1997, o acordo de administração dos recursos tinha duração de oito anos, prorrogáveis por mais dois. Inicialmente, o Opportunity administrava dois fundos chamados CVC, criados à época das privatizações das empresas de telefonia, um formado com recursos de fundos de pensão e outro com investidores internacionais, ambos instituídos pelo Citigroup.

Segundo o presidente da Associação Nacional de Participantes de Fundos de Pensão (Anapar), José Ricardo Sasseron, no entanto, Daniel Dantas afastou os acionistas da gestão. Com isso, a Petros, em um movimento semelhante ao do Citi, comandou a retirada do Opportunity do CVC brasileiro, em 2003. Os recursos foram redirecionados à Angra Partners, e o fundo, rebatizado de Investidores Institucionais FIA.

- Ele montou uma série de operações para tomar decisões sozinho - comenta Sasseron.

Ao destituir o Opportunity do fundo de investidores estrangeiros, na última quarta-feira, o Citigroup fez um acordo com os Investidores Institucionais para que, juntos, se tornassem os controladores de quase todas as empresas nas quais os fundos investem. Assim, o bloco terá em torno de 80% da BrT.

- Agora, será estabelecida uma relação mais respeitosa entre os fundos de pensão e o Citigroup - avalia Sasseron.

Fonte ligada aos fundos de pensão afirma que o grupo irá se desfazer dos investimentos em todas as empresas, já que os negócios ''tiveram tempo suficiente de maturação''.

O leilão de venda da Telemig Celular e da Amazônia Celular, anunciado há cinco dias pelo Opportunity, será cancelado. Segundo essa fonte, ''Daniel Dantas deu um passo ousado demais, e isso foi um balde de água em um copo que já estava cheio'', determinando a destituição.

- Como gestor, ele deveria ter comunicado ao Citigroup que se desfaria das empresas. Com 48% de participação nas duas, o Opportunity seria o único beneficiado pela venda.

Localizado no estado americano de Delaware, a Citigroup Venture Capital International Brazil passará a administrar os recursos do CVC em, no máximo, 15 dias.

Procurado, o Opportunity não se pronunciou sobre o caso.