Valor Econômico, n. 5233, 22/04/2021. Política, p. A4

 

País pode antecipar para 2022 redução de desmatamento ilegal, sinaliza Salles

Marcelo Ribeiro

22/04/2021

 

 

Em meio a forte pressão internacional e de investidores brasileiros por resultados concretos na área do meio ambiente, o presidente Jair Bolsonaro deve anunciar hoje na Cúpula de Líderes sobre o Clima o compromisso de seu governo de antecipar a meta de redução do desmatamento ilegal no país e prometer um aumento de recursos públicos para órgãos responsáveis pela fiscalização ambiental, disseram ao fontes do governo a par do assunto.

Segundo apurou o Valor, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sinalizou ontem em reunião virtual com empresários que o governo pode antecipar para 2022 a meta de redução do desmatamento ilegal. Em carta ao presidente americano, Joe Biden, Bolsonaro havia afirmado na semana passada que se compromete a zerar o desmatamento até 2030, considerado como “pouco ambicioso”.

A reunião, que também contou com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, para tratar da agenda ambiental do governo se deu num momento em que é crescente a preocupação de executivos no Brasil com a repercussão da política ambiental da gestão Bolsonaro no exterior, o que pode afastar investidores do país.

No encontro, organizado pelo Conselho Diálogo pelo Brasil, coordenado por Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Salles também reforçou ser favorável ao pedido de verbas aos EUA para bancar ações de preservação do meio ambiente.

Além de Skaf e dos ministros, o embaixador Leonardo Athayde, diretor do Departamento de Meio Ambiente da Secretaria de Assuntos de Soberania Nacional e Cidadania do Ministério das Relações Exteriores, e representantes de 50 grande grupos privados brasileiros estiveram presentes na videoconferência. Entre os CEOs e representantes das companhias, participaram Rubens Ometto (Cosan), André Gerdau Johannpeter (Gerdau), Carlos Alberto de Oliveira Andrade (CAOA), Dan Ioschpe (Ioschpe-Maxion), Edgard Corona (Bio Ritmo / Smart Fit), Eugênio De Zagottis (Raia Drogasil), Fernando Galletti de Queiroz (Minerva Foods), Flávio Rocha (Riachuelo), Francisco Gomes Neto (Embraer), Jerome Cadier (Latam), Lourival Nogueira Luz Junior (BRF) e executivos de São Martinho, Procter & Gamble, Nestlé, Cargill, Energisa, Via Varejo, MRV, Duratex e JBS.

O encontro remoto ocorreu na véspera da cúpula do clima convocada por Biden. Na ocasião, Salles adiantou que o discurso de Bolsonaro será em linha com a carta que o presidente enviou ao americano na semana passada. Aliados de Bolsonaro avaliam que a participação dele na cúpula também será o primeiro teste de fogo para calcular o poder de influência do novo chanceler Carlos França sobre a atuação do chefe do Poder Executivo no cenário internacional.

Segundo fontes, a fala de Bolsonaro de três minutos é aguardada para mensurar se França já conseguiu influenciar o governo a adotar nova direção na pauta externa, inclusive na agenda ambiental.

Interlocutores do presidente apostam que o discurso dele surpreenderá e que dará sinais de preocupação com questões que são prioritárias para lideranças internacionais, entre eles, Biden.

Fontes relataram que a conversa “tranquilizou os ânimos dos presentes”, já que o ministro apresentou metas e não ficou apenas no discurso ideológico. Na terça-feira, representantes do setor privado ficaram preocupados com uma declaração de Salles de que o Brasil é alvo de interesses de países mais desenvolvidos.

Ontem, empresários cobraram de Salles a adoção de medidas concretas e de curto prazo que indiquem compromisso do país em combater o desmatamento ilegal.