Título: Crise na saúde do Rio estimula briga política
Autor: Sérgio Pardellas e Sérgio Prado
Fonte: Jornal do Brasil, 15/03/2005, País, p. A2

Intervenção do governo federal dá munição a Lula contra Cesar Maia

A crise na Saúde do Rio de Janeiro, sob intervenção federal desde a última semana, acabou dando munição ao governo federal para atirar em pleno vôo num potencial adversário do PT nas eleições presidenciais em 2006: o prefeito Cesar Maia (PFL), pré-candidato do PFL à presidência da República. Ontem, no Palácio do Planalto, ministros do núcleo político do governo comemoravam os efeitos da operação anticrise deflagrada na última semana pelo Ministério da Saúde. Na avaliação de integrantes do governo, além de achar que está solucionando um problema, a intervenção na Saúde do Rio renderá a Lula dividendos políticos que poderão ser capitalizados mais adiante. O episódio também teria servido, segundo um integrante do primeiro escalão federal, para garantir uma saída honrosa ao Ministro da Saúde, Humberto Costa, pule de dez para deixar a Esplanada na reforma ministerial a ser anunciada até quinta-feira.

- Não há dúvidas de que, além de beneficiar a população, a intervenção será importante politicamente para Lula, como também foi uma saída interessante para Humberto Costa - disse um ministro ligado ao presidente.

Contornar a crise na Saúde do Rio era uma das principais bandeiras empunhadas por Cesar Maia durante sua campanha à reeleição.

Com essas medidas, o Planalto espera, a curto prazo, neutralizar Maia, estrela dos programas televisivos do PFL nos últimos meses.

Cesar Maia, por sua vez, contra-ataca: acusa o Ministério da Saúde de não ter planejamento financeiro e diz que o governo deve R$ 190 milhões à prefeitura. Mas não se opõe à operação sob o argumento de que a cidade é que impôs ao governo federal a devolução dos hospitais federais.

Na opinião da cientista política Lúcia Hipólito, trata-se de um ''jogo de espertos'' do ponto de vista político. Mas ''faltou combinar com a população''.

- O problema é que esperteza quando é demais engole o dono. O governo acha que, com a intervenção, ''matou'' Cesar Maia. Acha que vai deixar o povo feliz e vai colher os louros. Só que o prefeito não é idiota. Maia louva a intervenção porque acredita que a Saúde do Rio não tem solução. E vai dizer mais adiante que um eventual fracasso será culpa do Planalto - avaliou.

O cientista político David Fleicher, da Universidade de Brasília (UNB), pensa diferente. Avalia que o prefeito César Maia foi o grande derrotado na contenda política com o Ministério da Saúde. Segundo ele, o pefelista jogou com um assunto sensível demais e tentou transferir para o Planalto um problema que não foi criado pela administração federal.

- Ele blefou e perdeu. Acabou tomando um tiro do governo central, que pode estar abatendo agora um futuro adversário na campanha pela reeleição de Lula.

Fleicher comenta que o governo, numa jogada bem-sucedida, abriu os hospitais para a imprensa a fim de mostrar o trabalho conduzido pelo Ministério da Saúde. Segundo ele, as reportagens deixaram em má situação a prefeitura do Rio.